Mesmo com todas as limitações de uma ampla atenção ao assuntos políticos que me são afeitos, devido à alta demanda de trabalho jurídico, na Pandemia e suas nefastas consequências na atividade da maioria dos nossos clientes, me chamou atenção uma postagem diretamente a mim dirigida na manhã de hoje, 20/08, numa rede social, por um amigo de São Paulo: “Penso che un certo politico influenzi la rivista ‘Insieme’ al suo bel piacere.”

Claro que procuro manter um acompanhamento diário das principais notícias que dizem respeito à Comunidade Italiana, especialmente no PR/SC, mas também no Brasil e, por extensão, na América Latina, onde ocupo a vice-coordenadoria do MAIE.
E esta cobrança do amigo Flangini, tem a ver com as recentes manifestações públicas do ex-deputado Fabio Porta, ora Coordenador do PD na América do Sul, sempre na Revista Insieme (18/08 e 20/08), seja sobre o referendum da redução do número de parlamentares que votaremos ‘sim’ ou ‘não’ – se os correios permitirem – até 15/09/2020, seja pelas críticas às propostas de mudanças nos critérios de concessão de cidadania, com eventuais exigências de conhecimento mínimo da língua italiana para o cônjuge ou a partir de determinada geração do candidato.

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Também diz Porta que está “alarmado” com o fechamento de consulados e com o perigo de contágios pela Covid-19, especialmente na América Latina, sendo que foram no pouco mais de 1 ano passado que vários consulados foram reabertos, bem como vários outros estão em fase de abertura ou reforma e ampliação de atendimento. Tudo isso para melhorar o atendimento a quem precisa; e não são poucos! Se há cuidados sanitários para os atendimentos, em 2020, estes são decorrentes da Pandemia e não de uma política de que se ocupa o governo para os italianos no exterior, em tempos de normalidade.

Temos em curso propostas que afetam diretamente os interesses políticos do expoente PD, que são do atual governo PD/M5S do qual Porta faz parte, mesmo que não queira ser vinculado quando se trata de redução dos parlamentares, ou restrições e exigências para a concessão de cidadania, como quer a deputada Siragusa (M5S). Tentar passar a conta para outros, que estão diariamente lutando para obter os melhores resultados para os residentes no exterior é uma clara tentativa de confundir os eleitores.

Por falar em governo PD, é justamente o partido que quer alterar o critério de ‘jus sanguinis’ para ‘jus soli’, evidentemente pensando apenas nos limites da bota, e isto Porta quer disfarçar, dizendo que não é isso, que não é de acordo, que poderia ser um verdadeiro ‘jus culturae’, enquanto é uma Deputada do PD, Laura Boldrini, que assim o fez e está em processo de discussão e não seria nenhuma surpresa, futura aprovação, e para ele, fica difícil dizer que o PD quer o ‘jus soli’ na Itália. Porta, claramente, porque já eleito pelos italianos no exterior em mais de uma legislatura, não pode dizer que é de acordo com as diretrizes do partido, um paradoxo insuperável.

O mesmo ocorre com o referendum para a redução de 1/3 do Parlamento Italiano, matéria que é praticamente dada como certa que será aprovada na Itália, com proposição e claro apoio do PD, mas Porta, para os ítalo-brasileiros, diz que não é de acordo. Aliás, inclusive com campanhas e comitês pelo ‘não’, com o qual evidentemente nós, cidadãos ítalo-brasileiros que vivemos fora da Itália, nos posicionamos e concordamos neste sentido, pois reduziria de 1/3 nossa já pequena representação. Podemos não representar muito, mas nada nos impedirá de continuar lutando para manter nossas conquistas e sabemos que os custos de 18 parlamentares no mundo, reduzindo para 12, ou seja, o corte de 6 não representará mais do que 1 gota de água no oceano dos custos do Governo Italiano.

Como se viu da parte do Coordenador do MAIE na Europa, Francesco Patamia, em artigo publicado hoje (20/08) no site ‘ItaliaChiamaItalia’ (e igualmente reportado por este site na mesma data– NR), –  “o expoente dem, então, faria bem em pedir luzes ao seu próprio partido, ao PD. Não sabe, por exemplo, que o PD é representado também na Farnesina, por uma vice-ministra do Exterior? Não sabe que mais da metade dos Ministros deste governo fazem parte do seu partido ou são ex PD? Eis aí o paradoxo:  Porta se refere a um executivo que é também o seu e o interpela sobre uma escolha feita a qual é da sua maioria. Talvez – conclui Patamia -, ao invés de apontar o dedo contra alguém, o coordenador Pd América do Sul faria melhor olhar com mais atenção à sua própria casa”.

Com todo o respeito e até compreendendo a posição do colega Porta, também coordenador de uma grande agremiação política dos cidadãos italianos residentes da América Meridional, sujeitos que somos a situações de desconforto entre as próprias convicções – que admiro e reconheço – e aquelas dos caciques partidários, tenho que concordar com o amigo veronese Flangini. De fato, não podemos ter apenas uma versão do momento político difícil, desgastante e do nosso futuro, absolutamente incerto, diante de tantas crises e riscos de ainda maiores cortes na nossa importância, como as que estão em curso. E, aqui, cabe a nossa modesta crítica e contribuição positiva para o debate.

A propósito, minha posição é pelo ‘não’ no referendum e sempre defendi que todo candidato à cidadania deve ter um mínimo de conhecimento da língua e da cultura italiana para, ao menos, entendê-la e lhe dar o devido valor. Se isso deve ser lei, daí é responsabilidade do Parlamento e nossos atuais representantes legislativos, eleitos em 2018, onde andam e o que fazem?