Uma imagem de Draghi no ano 2000, divulgada no final de 2005, quando foi nomeado Governador do Banco da Itália. (Photorola/Ansa/Insieme)

Aqueda do governo Draghi, que levará os italianos a eleições antecipadas já anunciadas para o dia 25 de setembro próximo, movimenta também o cenário político dos cidadãos residentes fora da Itália. Quando tudo estava previsto para a próxima primavera europeia, as coisas acontecerão no outono (primavera aqui no Brasil), atropelando candidaturas e articulações que já estavam em curso que, com um horizonte mais distante, aconteciam sem pressa. Como o voto no exterior é por correspondência, o prazo para a tomada de decisões é ainda mais curto e urgente.

Com a dissolução do Parlamento por ato do presidente Sergio Mattarella, será a segunda operação de voto este ano, envolvendo os 4.736.205 eleitores fora da Itália devidamente inscritos no Aire (o cadastro de eleitores residentes no exterior), correspondentes a quase 10% do total de eleitores em território italiano (46.174.268), conforme dados do último referendo. Desse total 1.511.406 vivem na América do Sul, sendo 432.230 no Brasil, conforme os dados divulgados pelo Ministério do Interior na apuração do referendo.

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O próximo pleito também  efetivação do grande enxugamento do Parlamento que, das 945 cadeiras atuais (630 na Câmara e 315 no Senado), passará a ter somente 600 cadeiras no total (400 na Câmara e 200 no Senado).

O enxugamento, que envolve também a Circunscrição Eleitoral do Exterior, diminuiu de 18 para 12 o total das cadeiras (8 deputados e 4 senadores para as quatro áreas), criando uma situação complicada na área da América do Sul e, em especial, no Brasil, hoje com um senador e dois deputados. Segundo apostam exegetas da política italiana local, será muito difícil ao Brasil eleger pelo menos um dos três parlamentares que tocam à América do Sul, dado ao maior colégio eleitoral que fica com a Argentina (768.716 eleitores) e às divisões que costumam ocorrer entre ítalo-brasileiros – o segundo colégio eleitoral da área.

Das articulações até aqui verificadas, as candidaturas mais prováveis seriam a de Fabio Porta e Fausto Longo (PD/MSI), Luis Roberto Lorenzato em um não divulgado nome para o Senado (Lega), Luis Molossi e Luciana Laspro (Maie/Italianità in Movimento), Renata Bueno em provável articulação com Andrea Matarazzo, mas sem partido ainda definido ou divulgado. Laspro prefere o termo pré-candidatos.

Um dos nomes sussurrados é o da advogada Stephania Puton, recentemente eleita para o CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’ – mas que ainda esta manhã desmentiu categoricamente uma possível candidatura: “Deixo isso aos mais preparados e convictos”, disse ela. O sociólogo Daniel Taddone, igualmente eleito para o CGIE, exclui seu nome da contenda, assim como o também conselheiro Walter Antonio Petruzziello, em honra a compromissos assumidos.

O senador Fabio porta dizia pela manhã estar  “esperando a data das eleições. Prontos para mais um desafio”. Entretanto, ele acrescentou: “Fico triste pela nossa Italia; não merecia uma eleição neste momento, provocada somente pelo egoísmo de alguns partidos”.

Falar em candidaturas na Área da América do Sul sem incluir o nome de Ricardo Merlo, fundador do Maie e atual senador, é quase impossível. Ele tem sido sempre, em toda a Circunscrição eleitoral do Exterior, o mais votado. Mas desta vez, segundo uma fonte de Insieme, ele não se candidataria, abrindo espaço para novos nomes naturalmente sob o guarda-chuva do Maie. De qualquer forma, ele disse esta manhã que o seu partido está preparado à imediata campanha, com vantagem operacional sobre as demais correntes.

A queda do Governo Draghi causou surpresa em todo o mundo. Inicialmente ele tinha o apoio de todos os partidos para conduzir o programa de reerguimento da Itália pós-pandemia, mas, mesmo sem nenhum voto de desconfiança no Parlamento, perdeu esse apoio devido às crises partidárias, a começar pelo Movimento 5 Stelle.

O avanço da preferência popular pelos partidos de centro-direita, segundo as sondagens, encorajou suas lideranças, principalmente de Fratelli d’Italia, Forza Italia e Lega a romper o acordo abrindo caminho para a antecipação das eleições, pois teriam chances reais de assumir o poder. O jornal Corriere della Sera publica hoje matéria projetando, em quatro situações, qual seria a composição do novo Parlamento segundo as sondagens.

Quatro hipóteses para a formação do novo Parlamento, segundo o jornal italiano “Corriere della Sera” (Reprodução/Insieme).

A dissolução do Parlamento, como se sabe, antecipa o final da Legislatura (esta é a XVIII) anula também todos os projetos de lei em curso nas duas Casas: assim, uma das propostas que vinha despertando interesse dos ítalo-descendentes, relativamente à Lei da Cidadania, poderá ter o mesmo fim obtido no final da Legislatura anterior.

(Atualizada às 17hs de 21/07/2022).