Ao contrário do que se apregoa, o Brasil não é um país monolíngue. Aqui existem mais de 300 línguas, das quais, 274 indígenas. Temos também 56 línguas faladas há pelo menos três gerações no Brasil por descendentes de imigrantes, como o Talian e o Pomerano, além de línguas crioulas, faladas na fronteira, como o portunhol, e as línguas de afrodescendentes. “Com um quadro desses, temos mesmo que desconstruir o mito de que o Brasil é um país monolíngue”.

A informação e a afirmação são de Rosângela Morello, coordenadora do Ipol – Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística, de Florianópolis-SC, que palestrou sobre minorias linguísticas durante o XXII Incontro Nassional de Difusori del Talian”, realizado recentemente (9 a 11/11) na cidade gaúcha de Serafina Corrêa, tema que é objeto de matéria especial na edição de dezembro da revista Insieme.

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Segundo a doutora em linguística pela Universidade Estadual de Campinas-SP, esse mito de que o Brasil é um país monolíngue “atrapalha a nossa cidadania e impede que a gente avance numa legislação que reconheça a educação bilingue e plurilingue no ensino público”. Essa situação, segundo ela, “gera muito preconceito e faz com que todas as pessoas que não falam o português corretamente sejam consideradas uma ameaça ou pessoas semi-analfabetas”.

Isso é muito perverso, diz ela, e “é contrário a tudo o que está acontecendo no mundo hoje, que é para as línguas, e feito de línguas”. Saber línguas, hoje, “é um valor, algo importantíssimo para a carreira pessoal, para o uso das tecnologias… o mundo é plurilingue e o plurilinguismo só nos beneficia”.

Com a Constituição de 1988, segundo Morello, houve um avanço muito importante permitindo que os municípios possam eleger suas línguas “co-oficiais”. Isso deu início a uma política nova no Brasil que hoje, segundo ela, já atinge a 30 municípios, com 11 línguas co-oficiais, sendo sete indígenas. O Talian, considerada a segunda língua mais falada no Brasil, é língua co-oficial já em 12 municípios – um em Santa Catarina e os outros 11 todos no Rio Grande do Sul.

Ainda segundo a palestrante, a política de co-oficialização de línguas por parte dos municípios significa hoje uma nova “jurisprudência muito importante para que a gente avance na construção de um país plurilingue”. Além disso, aduz Morello, temos o Inventário Nacional da Diversidade Linguística, que se constitui na primeira política nacional de levantamento e reconhecimento da diversidade linguística brasileira – uma realidade muito pouco conhecida.

No caso do Talian, a língua já é reconhecida como uma referência cultural brasileira e “isso é muito importante – afirma Morello em entrevista a Insieme – já que a gente teve uma histórica de repressão e de silenciamento”.