Renato Carosone (1920-2001), compositor italiano, cantor, pianista que se notabilizou por canções como "Tu vuò fà l'americano". (Foto Wikipedia)

Parece que o processo eleitoral dos Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’ no Brasil ainda não foi de todo concluído e o que está em debate, até aqui em relativo sigilo, joga uma suspeita muito séria sobre a circunscrição consular de São Paulo, onde a disputa pelas 18 cadeiras de conselheiro e as negociações e acordos para a indicação de seis cooptados marcaram um capítulo à parte. Segundo informações seguras obtidas por Insieme, o que se discute a “portas fechadas” são as origens italianas – ou a falta delas – de um dos cooptados. Ele não preencheria a exigência fundamental para ser um conselheiro cooptado, que é ter pelo menos um ascendente italiano até o quarto grau, ou seja, um dos oito bisavós.

Essas informações já circulavam em Brasília, durante o processo eleitoral dos quatro representantes brasileiros no CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’. Até então, era apenas uma dúvida que, com o passar do tempo, teria sido levada objetivamente ao conhecimento de alguns conselheiros do Comites-SP que tentaram, sem sucesso, sanar o problema ou contemporizar “para evitar escândalos”  e, finalmente, à presidência do Comites. Em seguida, o problema teria sido levado também ao Consulado Geral da Itália em São Paulo – em última hipótese, o fiscal maior do processo.

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A questão é a seguinte: poderiam ser candidatos às vagas de cooptados (seis em SP e quatro em cada um dos demais seis Comites que operam no Brasil), quaisquer cidadãos ítalo-brasileiros, desde que descendentes até a quarta geração, e sem a cidadania ‘iure sanguinis’ ainda reconhecida. Textualmente, a lei diz: “cittadini stranieri di origine italiana per parte di almeno uno dei genitori fino al quarto grado in linea retta di ascendenza’ (cidadãos estrangeiros de origem italiana por parte de pelo menos um dos genitores até o quarto grau em linha reta de ascendência).

O cooptado em questão é Felipe Salgado de Paola (ou de Paula, conforme consta em documentos enviados à redação) que, conforme seu perfil no Facebook, é natural de Caçapava, estudou Gastronomia na Univap – Universidade do Vale do Paraíba e mora e trabalha em São José dos Campos. Ele foi indicado, segundo informa a fonte de Insieme, pela associação ITAL-UIL-UIM.

A fonte diz estranhar tudo isso, e  desencadeia uma série de indagações: Não teria a associação verificado os requisitos básicos antes de fazer a indicação? O próprio Comites não teria verificado a situação dos candidatos antes de votar? Por fim, não teria também o Consulado percebido eventuais falhas numa das exigências básicas antes da nomeação?

Em outras circunscrições o assunto gerou debates, preocupações, pesquisas apuradas e até uma substituição de nome: em Brasília, por exemplo, a chancelaria consular verificou esse requisito em pormenores, tendo sido necessário trocar um membro por outro justamente devido à impossibilidade de comprovar a condição legal. No caso de São Paulo, o nome do possível “infiltrado” em questão não teria apresentado documento que comprove a sua ascendência italiana.

Instado já há tempos para que suprisse a falha, o cidadão em questão não teria comprovado sua ascendência italiana até o dia de ontem. Na tentativa de esclarecer a situação, insieme dirigiu questionamento ao presidente do Comites de SP, Alberto Mayer, e à cônsul adjunta Livia Satullo (que comandou o processo na troca do titular), colocando a questão e solicitando esclarecimento do fato, que será relatado na próxima edição da revista Insieme.

Em contato com a redação, Diego Mezzogiorno, irmão de Felipe Salgado e responsável por sua indicação abraçada pela ITAL-UIL-UIM, informou estranhar o debate tardio em torno da validade de uma candidatura com base na exigência de documentos demonstrativos da ancestralidade italiana, uma vez que “esses documentos não foram exigidos de nenhum dos candidatos a conselheiros cooptados”.