Cesare Villone em imagem de 2015 (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme).

A “reconstituição do Ministério para os Italianos no Mundo” é um dos itens da plataforma de campanha de Cesare Villone, um italiano que desde 2006 vive em Fortaleza, candidato a deputado no Parlamento Italiano pela coligação de centro-direita dentro da cota do partido ‘Forza Italia’, de Silvio Berlusconi. Villone é hoje também conselheiro do Brasil no CGIE – Conselho Geral dos Italianos no Mundo e, segundo diz, sua entrada em campo na atuação político-partidária foi uma decisão pensada e amadurecida.

Villone quer também que a Circunscrição Eleitoral do Exterior seja considerada de fato e de direito a 21 Região Italiana. Melhorias na rede e nos serviços consulares, reforma do Aire, paridade no tratamento dispensado aos cidadãos italianos no exterior com aqueles que habitam a Península, o fim da “vergonhosa” fila da cidadania e o questionamento da cobrança da chamada “taxa da cidadania” são outras questões levantadas pelo fundador da Câmara de Comércio Italo-Brasileira da Região Nordeste do Brasil.

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Ele é um dos 83 candidatos que disputam os votos dos eleitores italianos em toda a America do Sul nas eleições parlamentares que acontecem na Itália dia 4 de março próximo mas que, no exterior, começam bem antes devido ao fato de elas serem por correspondência. Seus colegas de chapa no Brasil são Andrea Dorini, também ao Senado, e Luis Roberto di San Martino Lorenzato  di Ivrea, para a Câmara dos deputados. Confira a entrevista exclusiva que o candidato Villone concedeu à Revista Insieme:

Villone diante da propaganda política da coalisão de centro-direita e de ‘Forza Italia’. (Foto Divulgação)

Quem é Villone?

Cesare Villone nasceu na Itália em Turim em 1959. Começou, imediatamente após seus estudos, a operar em mercados estrangeiros, onde se especializou na criação de redes de distribuição de peças sobressalentes para veículos. As experiências mais importantes foram amadurecidas principalmente na África e no Oriente Médio no âmbito da Cooperação Internacional.

Desde 2006, vive permanentemente no Brasil, em Fortaleza, onde coordena as atividades do Sistema Itália local.

Presidente da Câmara de Comércio Ítalo-brasileira da Região Nordeste do Brasil, fundada por ele mesmo em 2010 e reconhecida pelo Governo italiano, é também atualmente Conselheiro do CGIE – Conselho Geral dos italianos no Exterior da América Latina. Trabalha em tempo integral com assistência de Compatriotas italianos e na proteção dos mais frágeis. Vive um feliz matrimônio com Graziele e, em 2015, obteve também a cidadania brasileira.

Sendo já conselheiro do CGIE, que o motiva a candidatar-se ao Parlamento Italiano?

m setembro de 2015, tendo obtido a experiência necessária sobre as exigências e necessidades de nossos compatriotas, com determinação e vontade de contribuir mais no suporte de nossas comunidades fora do País, fui candidato às eleições do CGIE, com a intenção de iniciar uma abordagem com ensejos também “Políticos” e não apenas Institucional em relação aos italianos no exterior. A escolha foi reforçada com a minha eleição como Conselheiro CGIE para a América Latina. Esta “entrada” na política sem conotações partidárias projetou-me em uma realidade na qual tentei, nestes dois anos, concretizar algumas iniciativas que solucionassem problemas que pensava serem primordiais como, por exemplo, o dramático tempo de espera dos que requerem a Cidadania Italiana; a situação da rede diplomático-consular, inúmeras vezes inadequada às necessidades de nossos compatriotas, tanto por falta de recursos quanto por falta de pessoal; melhor eficácia na promoção do ‘Made in Italy’; a necessária reforma do sistema AIRE – Registro de italianos residentes no exterior; bem como numerosas outras medidas urgentes para a promoção da língua e da cultura italiana, do direito à Educação e da Vigilância Sanitária.

Lançadas as bases para uma ação cada vez mais incisiva e operacionalmente específica e analisando, por mim mesmo e objetivamente, a possibilidade de uma participação mais ativa na política italiana, decidi candidatar-me à Câmara dos Deputados, com o apoio e a plena disponibilidade sobre os projetos de reforma que vamos apresentar em favor de nossas comunidades no exterior, do partido ‘Forza Italia’.

Considero urgente a entrada em campo, a fim de fomentar a atenção e a necessidade de aumentar a força de nós italianos (e futuros italianos) que vivemos fora do nosso País, através de políticas sérias e reformas profundas no tratamento a nós reservado hoje por parte de quem está no comando”.

Por qual razão escolheu a coligação de centro-direita e por que isso ocorre praticamente à última hora?

A minha decisão de participar diretamente da Política ativa com ‘Forza Italia’ certamente não se rata de uma escolha repentina, pelo contrário, amadureceu ao longo do tempo observando e analisando o que foi feito para nós italianos no exterior, a partir da instituição do “Ministério para os Italianos no Mundo” – Ministério criado em 1994, pelo Governo Berlusconi, suprimido pelo Governo Dini, em 1995, e reproposto por Silvio Berlusconi em seu segundo governo, em 2001. Posteriormente, em 2006, novamente suprimido pelo Governo Prodi II. Esta é a única e verdadeira história, documentada, que nos permitiu estar aqui hoje para expressar um voto político, para fazer ouvir nossas vozes e para defender nossos direitos. A história do que alcançamos ao longo do empo começou com o Governo Berlusconi. A partir desses objetivos alcançados no passado, temos o dever de continuar a lutar com força e determinação para proteger nossas Comunidades que vivem fora de sua terra natal.

Algumas correntes políticas dizem por aí que Salvini e Berlusconi são contra os italianos no exterior, que com eles perderíamos “direitos”. Que diz disso?

Nossos atuais representantes na Câmara e no Senado, assim como os anteriormente eleitos, tentaram resolver os problemas de nós italianos que vivemos no exterior, promovendo programas políticos ou minúsculas reformas que, na maioria das vezes, provaram ser absolutamente inadequadas para as reais necessidades daqueles que representam e, por consequência, não suficientemente eficazes para mudar de forma decisiva a nossa situação se a compararmos com as dos que vivem em nossa Pátria, situação que hoje é, mais do que nunca, injusta, dissímil e de perene incerteza para o nosso futuro!

Itália significa Direito à Saúde, à Educação para nossos filhos. Itália significa proteção dos mais frágeis, significa Previdência e Assistência Social. Itália é uma profunda e maravilhosa história cultural, é Ciência e Excelência. Itália é integração profunda e demonstra no acolhimento e na diversidade o seu caráter único no mundo. Existe uma Itália que não vive em solo nacional, mas que decidiu construir o seu próprio futuro em outros lugares. Estamos conscientes das necessidades desta Itália que é parte de nós e será parte integrante do nosso programa político.

Com que argumentos está pedindo a confiança dos eleitores?

Os pontos-chaves do meu programa de reforma incidirão de forma concisa sobre essas grandes problemáticas:

• Reforma do Aire (não mais adiável)

• Equiparação de tratamentos: hoje dissímil entre italianos que residem na Itália e italianos que vivem no exterior, no que diz respeito a temas essenciais como tributação, direito à saúde, à previdência e à assistência social.

• Anulação total das normas que penalizam quem vive fora da Itália (em relação com quem vive em solo italiano).

• Aprimoramento da rede e dos serviços consulares (força-tarefa de emergência para o Brasil, que trate exclusivamente das práticas de cidadania para zerar a lista de espera vergonhosa o mais breve possível. Revisão do serviço de reserva on-line, fortalecimento da rede consular com recrutamento direto de funcionários locais, abertura de novas agências consulares na América do Sul em territórios com significativa presença italiana e nativa, extensão de outorgas às Agências Consulares Honorárias.

• Reconstituição do Ministério para os Italianos no Mundo.

• Constituição da 21ª Região Italiana (Região Exterior).

• Profunda reforma do sistema de representação do nosso ‘Made in Italy’ (internacionalização de empresas, promoção do ‘Sistema Paese’ – estruturas públicas e privadas que colaboram para apoiar a atividade internacional do comércio à produção).

• Criação de um fundo de “microcrédito trabalho” destinado a apoiar italianos que pretendem iniciar ou implementar uma atividade comercial de microempresas no exterior.

• “Microcrédito Estudo”: destinado a apoiar jovens estudantes italianos que pretendem realizar um estágio na Itália ou em outros países.

• “Microcrédito Solidário”: destinado a italianos que se encontram em momentânea dificuldade econômica ou em estado de necessidade no exterior.

• Fomento dos nossos institutos de cultura no exterior.

Tenho plena convicção de que estas são algumas questões que, se levadas à cabo, transformarão positivamente o nosso “ser italiano” mesmo estando fora da nossa amada Pátria.

Qual sua visão sobre a comunidade ítalo brasileira em seus diversos aspectos (social, cultural, econômico, etc)?

Fazemos parte da maior comunidade italiana e nativa do mundo fora do território italiano (América Latina), isso deve nos fazer pensar positivamente. O Brasil, particularmente, exala italianidade, não há lugares onde a presença italiana não tenha marcado a história, a integração com o povo brasileiro tem sido e é tão profunda que já se tornou indelével. As conquistas culturais, sociais e econômicas alcançadas até agora pelos italianos e descendentes devem ser uma fonte de orgulho, satisfação e respeito pelo que foi feito e deve ser exemplo para tudo que ainda precisa ser feito.

Quais são nossos principais problemas a seu ver?

Os principais problemas de hoje para aqueles que vivem no Brasil ou, em qualquer parte fora da Itália, são muitos. Partindo da inscrição Aire (que não funciona), passando pelo tratamento discriminatório em comparação com aqueles que vivem em nosso País e com todas as consequências que já citei acima. Temos o dever de reagir e de mudar radicalmente a política que tem sido até agora levada adiante, promovendo ações de reforma profunda com o objetivo de proporcionar, como deve ser, uma maior atenção e consideração para conosco italianos e futuros italianos que vivem no exterior.

Quais suas propostas de trabalho e compromissos?

Se os meus compatriotas me permitirão a possibilidade de representá-los nas instâncias onde as iniciativas são apresentadas e onde as decisões são tomadas (Parlamento em Roma), confirmarei a minha vontade de operar somente e exclusivamente com o objetivo de levar em devida consideração a nossos direitos e as nossas necessidades para um futuro mais justo e melhor! Basta ser tratados como italianos de segunda divisão!

Que pensa especificamente sobre as chamadas “filas da cidadania”? Como pretende resolver isso?

Aprimoramento da rede e dos serviços consulares (uma força-tarefa de emergência para o Brasil, que trate exclusivamente de práticas de cidadania para zerar a lista de espera vergonhosa o mais breve possível). Não há outras possibilidades concretas para resolver este gravíssimo problema e, infelizmente, se a intervenção não for radical a situação está destinada a piorar.

E sobre a “taxa da cidadania”, cobrada por um direito de sangue, que pensa?

Acredito que o problema seja bem mais complexo e que deva partir de considerações mais profundas. Eu respondo que pagar uma taxa para obter um direito devido não está certo! Infelizmente, a Itália vive em uma situação econômica difícil e resolver problemas que há anos nos acompanham (como o reconhecimento da cidadania aos de direito) não é uma tarefa fácil. Em minha opinião, com uma mudança radical (conforme nosso Programa Político) como, por exemplo, simplificar os procedimentos de produção de documentos, dando validade à documentação já apresentada aos Consulados pelos mesmos membros da família (portanto, não tendo que refazer todos os documentos necessários), sendo assim possível reduzir consideravelmente o trabalho de preparação e verificação por parte das Agências Consulares, com consequente redução de custos, tornando viável, portanto, a possibilidade de isenção do imposto para aqueles com baixos rendimentos.

Para quem já é cidadão italiano reconhecido, agora existem também as filas para o passaporte. Que diz disso?

Revisão do serviço de reserva on-line, fortalecimento da rede consular com recrutamento direto de funcionários locais, abertura de novas agências consulares na América do Sul em territórios com significativa presença italiana e nativa, extensão de outorgas às Agências Consulares Honorárias.

Entende que um parlamentar poderia influir positivamente inclusive na nomeação de cônsules e embaixadores mais sensíveis a nossos problemas?

Tenho a plena convicção de que quem promove a boa política deve manter ótimas relações com todos, especialmente tratando-se de um parlamentar eleito pelo povo. É importante interagir com as instituições centrais em Roma adquirindo assim respeito e credibilidade, de modo a ser considerado um ponto de referência da comunidade local, podendo assim expressar conselhos ou opiniões também sobre as nomeações dos representantes consulares.

Números atestam que a alegada deficiência da estrutura consular na América Latina não decorre da falta de dinheiro. Os consulados se auto financiavam já antes da taxa da cidadania. Onde está a falha?

A situação atual é consequência do adiamento de resoluções para problemas sérios que, infelizmente, ao longo do tempo tornaram-se uma emergência. Pensemos nas estruturas consulares que, muitas vezes, não possuem meios e equipamentos adequados para atender a demanda cada vez maior de serviços por parte dos usuários. Pensemos também na estagnação durante anos na Itália de novas admissões no âmbito diplomático o que criou um escassez de funcionários de carreira com a consequente falta de profissionais especializados no difícil trabalho diplomático. Em particular modo na América Latina, onde o custo de vida aumentou exponencialmente nos últimos anos, a incerteza política e econômica continua alta, os problemas com a segurança pessoal e com o fornecimento de serviços básicos, geralmente são precários considerando os padrões europeus, tornou-se ainda mais difícil, objetivamente falando, encontrar profissionais capacitados dispostos a se transferir nas sedes latino-americanas.

Afirma-se que na área cultural e da difusão da língua italiana também andamos de ré nos últimos anos. Concorda com isso?

Eu não concordo com isso. Nossos Institutos de Cultura Italiana no exterior são recursos muito importantes para manter viva a presença italiana no território, para promover e conservar nossas tradições, nossos costumes, nossa história e nossas excelências. Infelizmente, também neste caso, por errôneas decisões políticas, em um passado recente, houve cortes nefastos nos fundos disponibilizados para a manutenção parcial desses preciosos Institutos, forçando numerosas estruturas históricas ao redor do mundo a fechar, extenuando nosso Sistema Itália. Nosso programa político prevê o relançamento desta rede extraordinária com um projeto progressivo de adaptação para que esses Institutos possam ser transformados ao longo do tempo em verdadeiras escolas italianas no exterior com reconhecimento Ministerial.

Outras considerações a fazer?

Caros Compatriotas. Somos chamados a expressar o nosso voto, a nossa opinião, as nossas aspirações. O momento é decisivo para o nosso futuro! Mostremos à Itália a nossa vontade de participar das escolhas políticas que nos guiarão pelos próximos cinco anos. Para mim, este novo desafio é uma fonte de orgulho e uma possibilidade concreta de prestar à nossa nação o meu contributo. Espero poder trabalhar com força e determinação para alcançar os objetivos estabelecidos, sempre a favor de nós italianos que vivemos no exterior.