“Foi um autogol. As pessoas que tentaram fazer isso, foram engolidas. Porque nós tivemos uma mobilização enorme por todos os deputados e senadores para tentar resolver o problema em menos de 48 horas. Em plenário tivemos os votos unânimes, todos favoráveis em defesa de minha candidatura e, principalmente, de meu trabalho”.
Quem fala assim e a deputada ítalo brasileira Renata Bueno, triunfante após a tentativa de eliminação de seu nome na próxima disputa eleitoral italiana, através de uma emenda à lei eleitoral recentemente aprovada e que pretendia estabelecer a “quarentena” dez anos a quem, no exterior, tenha exercido funções públicas nos governos locais.
Renata não só condena a tentativa como vai além, ao criticar principalmente a política italiana, que chama de “conservadora” em relação às mulheres. “Veja a que nível que chega a nossa política, ainda mais quando se trata de uma deputada mulher”, disse ela na entrevista que concedeu com exclusividade ao editor da revista Insieme na tarde de sexta-feira última (27), em Curitiba.
“Foi uma manobra muito clara de meus adversários de, com medo da competição eleitoral, tentar me tirar do jogo”, disse Renata Bueno, agradecendo a Deus por ser, “se não a mais respeitada perante os colegas, independentemente de direita ou de esquerda, muito respeitada e as pessoas sabem que, realmente sou política, não estou ali para fazer negócios, não estou ali para ganhar nada em troca, pelo contrário, faço a defesa daquilo que devo fazer”.
Além da questão pessoal, Renata Bueno vê na iniciativa uma tentativa de limitar os direitos políticos dos italianos no exterior. “Os direitos políticos de todos os cidadãos italianos no exterior não podem ser limitados. Estamos falando isso porque abrange uma questão de direitos humanos, quando toca os direitos civis, quando toca os direitos públicos”, raciocina.
A parlamentar recrimina também a introdução do dispositivo que permite que cidadãos italianos se candidatem na Circunscrição Eleitoral do Exterior. “Isso é uma tentativa de ocupar um espaço que é nosso e mais uma vez limitar os direitos políticos dos cidadãos que aqui vivem’.
“Trazer pessoas que moram na Itália e que não conhecem a realidade dos italianos no exterior para que se candidatem aqui e nos representem… não existe lógica” na proposta, segundo raciocina a parlamentar, aduzindo que ela “foi a única, em plenário” que defendeu isso, enquanto outros colegas nada fizeram.
Segundo Renata Bueno, o Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’, como integrante da Comissão Constitucional, “poderia ter proibido a passagem dessa emenda na Comissão Constitucional, onde a emenda foi colocada no último minuto”, mas “nosso querido colega deputado que deveria estar lá, não estava; estava em qualquer lugar, fazendo outras ações, mas não dentro do Parlamento que era o seu dever”.
Por outro lado, “meus colegas do Partido Democrático” também nada fizeram para evitar isso, conta Renata Bueno, enfatizando ter sido a “única combativa em plenário para tentar impedir que isso acontecesse”. Segundo ela, a nova norma desvirtua o conceito original da Lei Tremaglia sobre a comunidade dos italianos no exterior.