Montagnoli: O primeiro a reagir assim que saiu a convocação de Curitiba com as novas exigências do 'vade mecum'. (Reprodução perfil FB)

O “Censo do Prejuízo” é dirigido a todos os que, “exclusivamente”, acabaram de ser convocados “e sentiram o soco no estômago por conta das exigências imediatas do Consulado de Curitiba”.


 

“Um tapa na cara de 3.000 pessoas” – assim está sendo definida a última convocação feita ontem (17/02) da lista de espera da cidadania italiana pelo Consulado Geral da Itália em Curitiba. A lista deveria ter sido convocada em novembro último, mas foi adiada sob a alegação de saída iminente de um roteiro unificado em todo o Brasil. As pessoas que estavam aguardando a convocação, em sua maioria, já tinham preparado seus documentos conforme as normas anteriores e agora terão que refazê-los, pois o ‘vademecum’ dá validade de seis meses a alguns dos documentos exigidos.

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As reações captadas nas redes sociais vão do inconformismo, ao desânimo. “3000 pessoas perdem todas as certidões dos vivos (agora com máximo de 6 meses de emissão) sem nenhuma abertura por parte do Cônsul de Curitiba para flexibilizar”, pois a “fase de transição para regras do novo roteiro” foi de zero dias “depois de cerca de cinco anos de espera pela convocação”, escreveu Daniel Laguna, postando foto do cônsul de Curitiba sorridente, recebendo uma condecoração.

A internauta Marciane Bitarello enfatiza a “falta de empatia e falta de consideração com as pessoas como eu que já estavam com os documentos prontos para entregar em novembro/19. Vou ter que pedir várias certidões novamente, apostilar e traduzir novamente. Se a Itália não quer reconhecer seus filhos, que fale de uma vez, não fique colocando milhões de obstáculos. Decepção e desânimo total diante dessas situações”.

Já Leandro Fraccaroli postou, abaixo da nota do Intercomites publicada neste site: “Obstrucionismo apelidado de “boas intenções”. Lamento juntamente todos os demais “enfileirados” as desproporcionais exigências e imposições apresentadas pelo Consulado de Curitiba. Mas é bom lembrar que o “enfileirado” de hoje é o eleitor de amanhã”.

As pessoas passaram a ter muitas dúvidas: “Encaminhei minha ficha para inscrição na  fila da cidadania em 2016, no mesmo envelope que enviei o requerimento dos meus pais, irmãs e filhos, enquanto eles foram inseridos na fila com número 46 mil, e e meus filhos fomos para o número 50mil. Providenciei todos os documentos, certidões, traduções e apostilas. Eles foram convocados em maio, eu com os documentos prontos acreditei que entregaria em novembro. Pelo que li no novo roteiro terei que pegar novas certidões, traduzir e apostilar tudo novamente?” pergunta por e-mail a leitora Sílvia Bedin.

Assim que a convocação da lista foi feita, juntamente com a divulgação das novas regras do ‘vademecum’, o primeiro a se manifestar diretamente à redação de Insieme sobre as dificuldades criadas pelo novo roteiro foi Carlos Montagnoli, professor universitário de Londrina-PR. Ele está na fila de espera desde 2016 e deveria ter sido convocado em novembro último.

“Como não sou de deixar nada para a última hora – conta ele -, providenciei toda a minha documentação a partir de 2016. Traduzi os documentos e os apostilei no ano passado, em julho. Agora, fui surpreendido pelo estabelecimento de um “prazo de validade” para os documentos, de seis meses, exceto, ao que parece, no caso das certidões de antepassados falecidos. Mas as minhas próprias certidões e as da minha mãe foram emitidas em 2016 e, portanto, pelas novas regras, eu terei que pedir a emissão de novas certidões, traduzir e apostilar de novo. É esse o “prêmio” que recebo por ser precavido e não ter deixado para reunir a documentação na última hora”.

Conforme já publicamos, Montagnoli cita problema ainda mais sério relacionado às novas exigências em relação à documentação de seus ancestrais. “Sou surpreendido com um novo documento da Itália a ser obtido, e com a necessidade de refazer parte do trabalho que eu já havia feito, por conta do estabelecimento desse ridículo “prazo de validade”. Para ele, “claramente trata-se de algo feito pelas autoridades italianas com o único intuito de dificultar o processo, e induzir as pessoas ao desânimo e à desistência de fazer valer seu direito à cidadania. No meu caso, receio que tenham conseguido”.

Hoje, o Intercomites (o órgão que reúne todos os Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’ no Brasil) publicou nota em que tece duras críticas a algumas exigências contidas no novo roteiro, que “nos levam a um passo para trás de mais de dez anos, tornando mais difícil o reconhecimento da cidadania italiana”. Tais itens, diz a nota, são “absolutamente errados, imotivados e inadmissíveis”.

Ao senador ítalo-argentino Ricardo Merlo, que é o subsecretário para os italianos no mundo da Farnesina (Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional) estão sendo dirigidos apelos no sentido de que, pelo menos no caso de Curitiba, seja considerado algum período de transição entre as normas em vigor anteriormente, quando boa parte dos enfileirados agora chamados já estavam com seus documentos já organizados.

“Pessoalmente sou contra essa exigência (validade de 6 meses para alguns documentos) para essa convocação. Deveria ter uma transição e na próxima poderia ser aplicada. A maioria das pessoas convocadas já tem os documentos prontos pois sabiam que seriam convocados em novembro/19. Foram convocados em fevereiro com novas regras o que é uma injustiça”, disse nessa tarde o conselheiro do comites PR/SC e advogado Walter Antonio Petruzziello.

Na página FB “Consulado Italiano de Curitiba – Área Livre”, João Paulo Perim Zago iniciou uma pesquisa que ele chama de “Censo do Prejuízo” dirigido a todos os que, “exclusivamente”, acabaram de ser convocados “e sentiram o soco no estômago por conta das exigências imediatas do Consulado de Curitiba”. Ele faz oito perguntas, incluindo o valor estimado do prejuízo de cada um: Lara Freitas declara prejuízo de R$ 3.700,00 e, caso toda a exigência for concretizada, cerca de R$ 24.000,00; Diogo Feliciano fala em R$ 3.200,00; Werynton Boneli, R$ 3.600,00 mais toda uma burocracia nova com documentos italianos; Sergio Marcondes fala em R$ 8.000,00, Elenita Fernandes Casagrande, em cerca de R$ 1.500,00, só para dar o exemplo de algumas manifestações.

Dentre as perguntas do “censo” está uma em que se solicita qual o ponto que considerou abusivo do novo roteiro. Weynton Boneli assim escreve:   “solicitar a negativa do registro civil da Comune, voltar a traduzir todas as certidões, exigir sentenças ou processos inteiros, exigir retificações que antes não eram necessárias. O problema não são as exigências em si e sim já valerem para esta convocação, não dará tempo de fazer muitas destas coisas em menos de 6 meses. Deveria ter havido um período de transição, esta chamada de ontem e a próxima de agosto deveriam seguir o roteiro antigo e o novo ser aplicado apenas a partir do ano que vem, pois será muito difícil alguém realizar retificação judicial em menos de um ano”.

Claudia Moreno, por sua vez, declara: “Comecei a buscar os documentos há mais de três anos, assim que entrei na fila. Todo esse tempo de espera e só agora para chamarem e fazer essa sacanagem conosco, terei de refazer 4 certidões, mais tradução juramentada e apostilagem tudo novamente… Tudo estava certo, só aguardando por mais de três anos.. tive prejuízo de mais de 5 mil reais. Fora o tempo jogado tudo no lixo. Fiz tudo certinho como era desde a última chamada e edital das exigências.. e agora mudam do nada em questão de dias, e sofremos as consequências? Um absurdo! Tudo custa dinheiro e muito! E não foi nada fácil”.