Enquanto o senador Ricardo Merlo (Maie) pega o vírus Covid19 no cumprimento de seu compromisso com os italianos no exterior, o deputado Luis Roberto Lorenzato (Lega) embolsa cerca de 100 mil euros de salário, há oito meses sentado “confortavelmente” em sua casa, no Brasil, sem dar a mínima para o Parlamento. “Quem deve renunciar?”
Este, em essência, é o resumo da resposta encaminhada esta manhã à redação de Insieme pelo coordenador do Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ na Europa, Ricky Filosa, também porta-voz do senador ítalo-argentino Ricardo Merlo, subsecretário para os italianos no mundo do Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional.
A carta de Filosa veio em resposta às críticas de Lorenzato contra a política do governo italiano em relação aos italianos no exterior, mais especificamente contra os atos em andamento de despejo e leilão dos imóveis da ‘Casa d’Italia’ em Juiz de Fora, Minas Gerais, determinados pelo cônsul da Itália em Belo Horizonte, Dario Savarese. Lorenzato disse ontem, em vídeo-entrevista, que “se Merlo não conseguir barrar isso, ele tem que se demitir” do cargo que ocupa num governo em que tem pouco poder de mando, já que dominado pelo PD.
Ainda na sexta-feira última, Merlo havia dito a Insieme que “resolveremos a injustiça de Juiz de Fora” e que “quando os italianos no exterior trabalham unidos, nem mesmo o Covid nos faz parar”. Em sua carta, Filosa assegura que Merlo, mesmo em isolamento, “está trabalhando arduamente para encontrar uma solução para o caso”.
O porta-voz de Merlo também faz considerações pesadas contra o comportamento de Lorenzato que, sem ter manifestado solidariedade a Merlo num momento difícil, “chuta um homem que já está no chão e que está lutando para se reerguer”. “Até mesmo Biden suspendeu sua campanha contra Trump no momento em que o presidente dos Estados Unidos luta contra o vírus”, observa Filosa, cujo texto traduzimos e reproduzimos, na íntegra, abaixo.
“Caro diretor, acabei de ler em seu prestigioso jornal, muito seguido não apenas no Brasil, um vergonhoso ataque do deputado Luis Lorenzato, da Lega, contra o subsecretário do Ministério das Relações Exteriores, Ricardo Merlo. Pulei da cadeira quando vi que Lorenzato pede até mesmo a renúncia [de Merlo] em função do problema que envolve a Casa d’Italia de Juiz de Fora.
O Subsecretário conhece muito bem a situação que envolve a Casa d’Italia, está acompanhando os fatos de perto há já alguns dias, e posso assegurar que está trabalhando arduamente para encontrar uma solução para o caso.
Mas é preciso enfatizar o quanto são, por diversos motivos, inoportunas as declarações do deputado ítalo-brasileiro.
O senador Merlo – como todos sabem – está travando uma batalha muito difícil contra o Covid19, depois de ter positivado no exame de sexta-feira última, e encontra-se em isolamento domiciliar. Vive um momento verdadeiramente complicado; o mesmo vale para sua filha de oito anos, também ela positiva. Recebeu mensagens de incentivo e afeto de todo o mundo, inclusive de adversários políticos, incluindo alguns deputados da Lega. Lorenzato, ao contrário, o que faz? O ataca nos jornais e pede sua demissão. Sem piedade alguma, sem o mínimo resquício de humanidade.
Até mesmo Biden suspendeu sua campanha contra Trump no momento em que o presidente dos Estados Unidos luta contra o vírus. Lorenzato não, faz o contrário: chuta um homem que já está no chão e que está lutando para se reerguer.
Caro diretor, sabe por que o Subsecretário pegou o vírus? Porque trabalha. Porque, apesar da pandemia, ele nunca deixou seu posto de comando. Sempre esteve presente no Parlamento e na Farnesina para cumprir seu compromisso em favor dos italianos no exterior.
Lorenzato, ao contrário, exatamente ele que fala muito, ficou no Brasil; há já oito meses ele está sentado, confortavelmente, em sua casa, não dando a mínima ao Parlamento e a seus representados, mas, mesmo assim, embolsando mensalmente seu salário de 13 mil euros por mês. É pago para nada fazer. O cálculo é fácil: o deputado da Lega embolsou cerca de 100 mil euros para ficar em casa. Quem deveria renunciar?
Se quiser travar uma verdadeira batalha em defesa da ‘Casa d’Italia’, o deputado Lorenzato precisa fazê-lo em Roma. Não a partir de sua casa.
Teria chegado o momento em que a política devesse voltar a ser aquela com “P” maiúsculo, também a que se refere aos italianos no exterior, que nos interessa mais de perto. Uma Política que se ocupasse do bem comum, que não tem inimigos mas adversários, que nos torna humanos.
Obrigado, diretor, pelo espaço que der a essa minha carta, saudações a você e a todos os italianos no Brasil
Ricky Filosa, coordenador do Maie na Europa”.