Pouco mais de 124 após a interdição da imigração italiana para o Espírito Santo, em função de um dramático relato sobre a situação dos imigrantes aqui chegados, a comunidade ítalo-capixaba vive momentos de expectativa sem precedentes com a confirmação da vinda de uma comitiva do governo italiano, chefiada pelo subsecretário para os italianos no mundo da Farnesina, senador Ricardo Merlo, para anunciar a instalação de uma agência consular em Vitória. A visita será no próximo dia 13, uma quinta-feira.

No mesmo período estava programada igual agenda para Florianópolis, em Santa Catarina, mas segundo Insieme apurou nesta manhã, foi cancelada devido a “empenhos governamentais”, segundo comunicado transmitido por Merlo aos coordenadores do Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’, Luis Molossi e Walter Petruzziello. Também nesta manhã, o embaixador da Itália, Antonio Bernardini, que ontem esteve em Florianópolis, informava a Insieme que os entendimentos com as autoridades catarinenses prosseguem.

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A expectativa – e o aniversário do decreto que proibiu a imigração italiana no Espírito Santo – é descrita pelo conselheiro do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’, Cilmar Franceschetto, em tele-entrevista exclusiva nesta manhã. Segundo ele, há esperança de que “essa visita traga o anúncio definitivo da instalação da agência consular” em Vitória, com condições de dar melhor atendimento a uma das comunidades com o mais alto percentual – ao lado de Santa Catarina – de descendentes de imigrantes italianos dentre todos os Estados brasileiros.

Franceschetto, que, além de escritor, é também diretor-geral do Arquivo Público do ES e responsável pelas pesquisas do projeto “Imigrantes no Espírito Santo”, explica na entrevista que o Estado já sediou consulado italiano desde 1864 até 1953. Em fevereiro de 1895, o então “Cônsul Real” da Itália em Vitória relatou ao seu governo a situação precária em que viviam os imigrantes italianos em todo o Estado e, com base nesse documento, a imigração foi proibida.

Na entrevista, Franceschetto historia um pouco o movimento pela instalação de “serviços consulares condizentes” no Espírito Santo, cuja população depende da estrutura consular de outro Estado, no Rio de Janeiro. Ele diz que o antigo movimento cresceu e está prestes a obter seus objetivos somente depois da decisão de juntar forças com Santa Catarina (ele faz referência clara ao conselheiro da Câmara de Indústria e Comércio Italiana de SC, Diego Mezzogiorno), cuja situação é bastante semelhante.

A comunidade italiana do Espírito Santo, apesar de numerosa e com crescentes atividades nos setores culturais, econômicos e sociais, inclusive com a instalação da ‘Casa d’Italia’ recentemente, segundo Franceschetto, tem sido sempre esquecida por autoridades e eventos que são levados ao eixo Rio-São Paulo, ou ao Sul, mas nunca ao Sudeste. Um fato que, segundo ele, que se repete com Buenos Aires, na Argentina, em relação à América do Sul. “Nossa história é a história da Itália também” – diz ele – ao manifestar a esperança que de isso mude e que a Itália passe a olhar mais “para esse povo”.

Segundo ele, o governo do Estado já disponibilizou até espaço físico para sediar a nova estrutura consular, que será vistoriado pela comitiva que será integrada, além de Merlo, pelo diretor geral para os italianos no mundo, Luigi Maria Vignali, pelo embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, e pelo cônsul da Itália no Rio de Janeiro, Paolo Miraglia Del Giudice. O governador, também ele um descendente de imigrantes italianos – disse Franceschetto – está sendo decisivo neste episódio, pois “resolveu pegar o boi pela unha” e está dando todo o apoio à causa que é antiga.

O conselheiro do Comites observa que, além da expectativa por serviços melhores, há também uma vontade de participação, de valorização da história de nossos antepassados e, por isso, o anúncio que está para se concretizar “traz esperança nova” a toda a comunidade ítalo-capixaba.