Com a ausência de apenas dois parlamentares eleitos para o Parlamento Italiano na América Latina, o protesto realizado diante do Consulado Geral da Itália em São Paulo na quinta-feira (12) reuniu, em clima de festa, cerca de 500 pessoas e se constituiu na maior manifestação pública já realizada em sinal de descontentamento pela qualidade dos serviços consulares italianos.

O tempo ajudou e sob o sol intenso do meio-dia, após as manifestações iniciais realizadas em plena Avenida Paulista, o público aguardou o protocolar encontro de uma comissão que subiu até o gabinete do cônsul Michele Pala (que não desceu para ter com os manifestantes) para entregar-lhe um documento contendo, outra vez, as principais reivindicações das comunidades itálicas de São Paulo e, em sentido geral, de toda a América do Sul.

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O documento reclama contra “o desastroso estado em que se encontra a rede consular italiana na América Latina” e pede mudanças para conferir “dignidade aos italianos no exterior, aos nossos diplomatas e aos nossos trabalhadores nas Embaixadas e nos Consulados”.

O texto aborda a falta de pessoal para garantia dos serviços adequados, o “mísero e precário tratamento econômico do pessoal contratado”, a “exígua remuneração dos vice-cônsules honorários”, a cobrança de “uma ridícula taxa de 300 euros para o reconhecimento da cidadania italiana” – um serviço que não é prestado nos tempos e formas devidas; a falta inclusive de “sede adequada” em alguns países e, entre outras coisas, pede também a reabertura urgente do Consulado de Montevidéu, no Uruguai.

“Temos absoluta necessidade de serviços consulares eficientes e modernos”, à altura de uma nação que está entre as principais potências mundiais, diz ainda o texto entregue ao Cônsul Geral do principal ofício consular da América do Sul. “Sem garantia dos direitos não há justiça nem igualdade no confronto entre os italianos que vivem na Itália. Manifestamos porque não somos cidadãos de série B”.

Dentre os assuntos mais criticados na manifestação estavam as chamadas ‘filas da cidadania’, nas quais ítalo-brasileiros aguardam o reconhecimento de seu direito à cidadania italiana ‘iure sanguinis’ por 10 ou até 15 anos ou mais, e as longas esperas, superiores mesmo a um ano, para a obtenção de passaportes através de um sistema de agendamento eletrônico já classificado como um “monstro informático” pelo próprio cônsul de Curitiba, Raffaele Festa.

“Queremos que seja dada dignidade a quem trabalha nos consulados”, reclama ainda o documento, deixando claro que o protesto não era contra diplomatas e funcionários. “O pessoal efetivo dos consulados ou dos que são contratado localmente desenvolve serviços essenciais ao público e representa a “carta de identidade da Itália no mundo”. Queremos – aduz ainda o documento – que eles se tornem a representação de uma Itália mais rápida, moderna, eficiente e à altura com a sempre maior globalização.

O documento entregue pela comissão composta, entre outros, pelos deputado Ricardo Merlo e Mario Borghese, pelo senador Claudio Zin, pelo presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de Curitiba, Walter Petruzzielo (que é também presidente do Intercomites), informa que “nos bateremos para que as coisas mudem” e “pedimos ao Governo italiano que responda ao grito de dor de uma comunidade que se sente enganada”.

Devido a problemas de tráfego na Rodovia Regis Bittencourt, no trecho da serra antes de chegar a São Paulo, uma delegação inteira de protestantes coordenados pelo conselheiro do Comites PR/SC e coordenador do Maie Brasil, Luis Molossi, chegou com bastante atraso na manifestação, apenas em tempo de encontrar o pessoal que já estava saindo do almoço oferecido, por volta das 15 horas, na sede do Círculo Italiano de São Paulo.

O vídeo que preparamos com algumas imagens da manifestação contem outras informações importantes sobre o protesto organizado, inicialmente, pelo presidente do Comites do Recife, Daniel Taddone, depois aderido pelo Maie – Movimento Associativo Italiani all’Estero, e também pelo Senador Fausto Longo, que esteve presente na Avenida Paulista. Os parlamentares ausentes foram Fabio Porta (que justificou sua ausência antecipadamente), e Renata Bueno.

Além de delegações de diversas cidades do interior de SP e de outros Estados, estavam presentes também representantes das comunidades de diversos píses da América Latina, entre os quais Argentina, do Uruguai, do Bolívia, República Dominicana e do México. Segundo opiniões colhidas na oportunidade, esta foi a “maior manifestação do gênero já realizada até aqui em toda a história da rede consular na América Latina”.