O presidente do Comites do Recife, Daniel Taddone. (Foto cedida)

“Qualquer movimento, por mais espontâneo que seja, é prontamente tachado de eleitoreiro” e esta “é uma resposta típica de quem vê fantasmas em todo o lugar”, afirma Daniel Taddone, ao avaliar a reação do deputado Fabio Porta e do senador Fausto Longo sobre a manifestação programada para o feriado dia 12 de outubro próximo, diante do Consulado Geral da Itália em São Paulo sob o apelo “300 euros: chega de desculpa, a fila da cidadania tem de andar”.

Segundo Taddone, o governo do Partido Democrático, apoiado pelos três parlamentares ítalo brasileiros, “não apenas virou suas costas aos italianos no exterior, como ‘tungou’ os muitos milhões de euros que deveriam ter sido destinados aos consulados”, e que “foi produzido pelo suor dos italianos que estão no exterior”. Somente no Consulado de São Paulo, teriam sido arrecadados, desde 2014, em torno de quatro milhões de Euros.

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Taddone é presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Recife e autor da iniciativa do protesto do dia 12, rapidamente taxada pelos parlamentares concorrentes como uma iniciativa eleitoreira do Maie – ‘Movimento Associativista Italiani all’Estero’, capitaneado pelo arqui adversário de Porta, deputado Ricardo Merlo, depois que o político ítalo argentino anunciou a adesão integral de seu movimento à manifestação.

A iniciativa de Taddone tomou impulso depois de ele ter rebatido, durante reunião recente do Intercomites, em Curitiba, uma intervenção da deputada Renata Bueno, afirmando que “nós estamos cansados do armistício, queremos a guerra (…) porque as filas, os abusos dos consulados, devem acabar de uma vez por todas”. A deputada até agora não respondeu à indagação que lhe foi dirigida por Insieme (a mesma encaminhada a seus colegas) sobre o protesto.

Em sua nota encaminhada à redação de Insieme, Taddone diz que não se surpreende com as posições dos dois parlamentares, pois “o discurso é sempre o mesmo há anos”, e observa que na era das redes sociais vê com otimismo o que chama de “uma nova era da participação da comunidade ítalo brasileira”. “Os ambientes de participação – diz o presidente do Comites do Recife – não mais se limitam às associações e patronatos, que têm e tiveram um importante papel, mas o mundo mudou e chegou o momento da ‘ágora virtual’”.

Entretanto, Taddone observa que o deputado Fábio Porta inovou ao se referir ao Maie como um ‘partido argentino’ – coisa que considera uma “deselegância que não é digna da história do ‘onorevole’” e que, segundo imagina, “será o mote das próximas eleições”.

Para Taddone é triste ver um representante de toda a América do Sul, aí incluída a própria Argentina, “apelar para o lado emocional da tola rivalidade entre Brasil e Argentina para tentar afastar o Maie dos ítalo-brasileiros”.

Depois da instituição dos 300 euros para cada pedido de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue, que vem sendo cobrada há mais de três anos, não há mais desculpas para as filas, observa Taddone, enquanto ironiza: “de comunicado em comunicado”, o deputado Porta “vem tentando fazer malabarismos verbais para explicar o sumiço dos milhões de euros que deveriam ter sido destinados aos consulados para o fim das filas de espera”.

Com a aplicação nos consulados do dinheiro arrecadado, Taddone imagina que “as filas diminuiriam para níveis dentro da legalidade e ainda seria possível abrir duas agências consulares de carreira em Florianópolis (SC) e Vitória (ES), justa reivindicação jamais efetivamente apoiada pelo nosso trio de ouro”.

Em outro trecho, depois de observar que não encontra registro de luta parlamentar para o cumprimento da norma que obriga os consulados a concluir um processo de cidadania no prazo máximo de 730 dias, Taddone qualifica “os três parlamentares residentes no Brasil, Fabio Porta, Fausto Longo e Renata Bueno” como “corresponsáveis por esse estado calamitoso e pelo sumiço dos milhões de euros, pois apoiaram nos últimos cinco anos todas as desastrosas políticas do governo do Partido Democrático para os italianos no exterior”.

A nota é concluída lembrando o “maldito prenota on-line” e os que “apodrecem em filas bíblicas” com um convite a todos os parlamentares para que compareçam na manifestação do dia 12: “Aguardamos a todos os parlamentares de braços abertos, esperando que possam finalmente sair do sono profundo em que se encontram, lugar idílico em que comunicados, ordens do dia, guardanapos rabiscados e turnês parlamentares fazem alguma diferença real para os cidadãos”.

O mesmo convite à participação dos três parlamentares no protesto do dia 12 será formalizado através de abaixo-assinado que corre nas redes sociais e pode ser subscrito por quem quiser, clicando aqui

Leia, a seguir, a íntegra da nota do presidente do Comites do Recife, Daniel Taddone: “Tendo lindo as últimas declarações do deputado Fabio Porta e do senador Fausto Logo sobre a manifestação marcada para o próximo dia 12 de outubro, posso dizer que em nada me surpreendem. O discurso é sempre o mesmo há anos, com os resultados mais do que conhecidos por toda a coletividade italiana, com ou sem a cidadania reconhecida.

Qualquer movimento, por mais espontâneo que seja, é prontamente tachado de “eleitoreiro”. Recordo-me bem quando uma cidadã reclamou de problemas que havia tido com a chancelaria consular da Embaixada em Brasília e espontaneamente centenas de pessoas começaram a dar a nota mais baixa possível à fanpage da Embaixada no Facebook. Em vez de se preocupar com a situação daquela cidadã, o deputado Fabio Porta imediatamente disse que era uma ação eleitoreira orquestrada pelo Maie. É uma resposta típica de quem vê fantasmas em todo o lugar.

Desta vez, o deputado Porta além de dizer que o protesto do dia 12 de outubro é eleitoreiro e organizado pelo Maie, o que é novamente uma inverdade, resolveu apostar no epíteto, ou melhor, no apelido carinhoso, de “partido argentino” para o Maie. Essa deselegância, que não é digna da história do On. Porta, será o mote das próximas eleições, anotem aí.O mais triste dessa estratégia é ver um representante de toda a América do Sul, incluída a Argentina obviamente, apelar para o lado emocional da tola rivalidade entre Brasil e Argentina para tentar afastar o Maie dos ítalo-brasileiros. Além de ser uma estratégia torpe, é um frontal desrespeito à história de pessoas como Luis Molossi e Bruna Spinelli, que estão há décadas defendendo os interesses dos ítalo-brasileiros.

Voltando à manifestação do dia 12 de outubro, é com bastante otimismo que eu encaro uma nova era da participação da comunidade ítalo-brasileira. Com as redes sociais, os ambientes de participação não mais se limitam às associações e patronatos, que têm e tiveram um importante papel, mas o mundo mudou e chegou o momento da “ágora virtual”.

É nessa ágora virtual que Salvador Scalia vem há anos convocando os “enfileirados” a se manifestar na frente de cada consulado, a “fazer barulho”. A inércia dos “enfileirados” sempre deixou Scalia perplexo e eu me uno a essa perplexidade. A questão é que o espaço virtual cresceu e ficou mais denso e agora talvez tenhamos uma importante oportunidade de “fazer barulho”, de chamar a atenção de meios de comunicação, brasileiros e italianos, para a ilegalidade das filas de espera pela cidadania, cujas desculpas acabaram após a instituição da taxa dos 300 euros.

De fato, desde 2014 o deputado Porta vem – de comunicado em comunicado – tentando fazer malabarismos verbais para explicar o sumiço dos milhões de euros que deveriam ter sido destinados aos consulados para o fim das filas de espera. E que fique bem claro: o sumiço foi operado diretamente pelo Partido Democrático, do qual faz parte o deputado Porta e que ele defende de maneira incondicional, pois sua lealdade está primeiro com o partido sediado em Roma e depois com os ítalo descendentes da América do Sul.

Em nenhum momento vimos o deputado batalhar para que se cumprisse o decreto nº. 33/2014 do Presidente do Conselho de Ministros que determina o prazo máximo de 730 dias (dois anos) para a conclusão de pedidos de cidadania italiana iure sanguinis. Os três parlamentares residentes no Brasil, Fabio Porta, Fausto Longo e Renata Bueno são corresponsáveis por esse estado calamitoso e pelo sumiço dos milhões de euros, pois apoiaram nos últimos cinco anos todas as desastrosas políticas do governo do Partido Democrático para os italianos no exterior.

Existe um dado não oficial, a ser ainda confirmado, de que somente o Consulado Geral de São Paulo teria arrecadado desde 2014 a gigantesca cifra de quatro milhões de euros apenas com os 300 euros de cada cidadania reconhecida de pessoas maiores de idade. Somando-se com o arrecadado em todos os sete consulados do Brasil, o que não seria possível fazer com esses muitos milhões de euros? Creio as filas diminuiriam para níveis dentro da legalidade e ainda seria possível abrir duas agências consulares de carreira em Florianópolis (SC) e Vitória (ES), justa reivindicação jamais efetivamente apoiada pelo nosso trio de ouro.

No entanto, nossos parlamentares navegaram placidamente nos últimos cinco anos apoiando incondicionalmente o governo do Partido Democrático, que não apenas virou suas costas aos italianos no exterior, como “tungou” os muitos milhões de euros que deveriam ter sido destinados aos consulados, dinheiro que não “veio de Roma” como um presente, mas que foi produzido pelo suor dos italianos que estão no exterior. Usar essa enorme quantidade de recursos não resolveria apenas a questão das filas ilegais, mas também aliviaria outros setores, permitindo que os serviços consulares fossem prestados de forma mais condigna do país que é a Itália. É condizente com a oitava economia do mundo que um cidadão italiano de Curitiba tenha de esperar mais de um ano para obter um simples passaporte? A loteria do sistema de agendamentos eletrônicos que escravizam milhares de concidadãos todos os dias às 19 horas fazem jus ao que a Itália representa para todos nós? A resposta é um sonoro “não”!

O dia 12 de outubro pretende ser uma vitrine para demonstrar de forma clara nosso descontentamento e tentar mostrar a todos os absurdos do atual governo e a complacência, quiçá cumplicidade, dos nossos parlamentares residentes no Brasil. Independentemente disso, aguardamos na manifestação a todos os parlamentares de braços abertos, esperando que possam finalmente sair do sono profundo em que se encontram, lugar idílico em que comunicados, ordens do dia, guardanapos rabiscados e turnês parlamentares fazem alguma diferença real para os cidadãos que apodrecem em filas bíblicas ou que têm pesadelos com o maldito prenota online.”