O senador Ricardo Merlo, presidente do Maie. (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

“Sim ao ‘ius sanguinis’ e não à desastrosa proposta ‘ius soli’ com o carimbo do PD. E que fique bem claro: sem limite de gerações”. Quem responde assim, secamente, é o deputado ítalo argentino Ricardo Merlo, rebatendo as críticas do deputado Fabio Porta (PD) ao atribuir ao Maie – “Movimento Associativo Italiani all’Estero” a iniciativa da manifestação convocada para o dia 12 de outubro diante do principal consulado italiano da América do Sul, em São Paulo: “300 euros: chega de desculpa, a fila da cidadania tem de andar!”

O deputado Fabio Porta, ao afirmar que “qualquer manifestação pacífica e democrática em apoio a uma boa causa, incluindo a melhoria dos serviços consulares, é bem vinda”, voltou a criticar duramente o Maie, acusando o partido capitaneado por Merlo de ter proposto “o fim da atual lei ‘ius sanguinis’ como única solução concreta à fila [da cidadania]”.

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Porta disse também “não apoiar (“non ‘metto il mio cappello’) esta a outras iniciativas, organizadas a poucos meses das próximas eleições por um partido político de há 12 anos teve sempre no Parlamento o maior número de parlamentares eleitos na América do Sul e que nada de concreto fez para resolver o problema das filas”.

Em sua resposta, Merlo vai além da acusação eleitoreira de Porta e diz que nas próximas eleições seu partido deverá colocar dois representantes ítalo brasileiros no Parlamento. Ele Começa por rebater o argumento levantado por Porta sobre a nova lei da cidadania, cujo debate está interrompido no Parlamento italiano: “Ridículo. Nós votamos contra o ‘ius soli’ proposto pelo PD – Partito Democratico. Está claro, portanto, que nós somos sempre pelo ‘ius sanguinis’”, isto é, pela transmissão da cidadania italiana pelo direito de sangue.

“Avizinham-se as eleições e o PD não sabe como justificar os desastrosos cinco anos de governo” – afirma o presidente do Maie, enumerando os alegados desastres: “1) Desmontaram a rede consular; as filas estão a ponto de colapso; 2) [Instituiram a] Taxa taxa de cidadania, fraudulenta e inconstitucional; 3) Propuseram e votaram a favor (todos os três eleitos no Brasil) do ‘ius soli’ (a concessão da cidadania italiana por direito de solo);

Segundo Merlo, o senador Claudio Zin votou contra o princípio do ‘ius soli’ pretendido pelo governo do PD. A referência ao senador Claudio Zin se reveste de especial importância, pois ele havia declarado, em abil de 2014, durante reunião continental do CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero em Curitiba, ser pessoalmente favorável à mudança da lei italiana para estabelecer um limite geracional à transmissão da cidadania ‘ius sanguinis’, conforme se pode ver neste vídeo.

Segundo acentua Merlo, “estes são os fatos, o resto é conversa típica de quem não sabe como se justificar. Lembre-se que a instituição da taxa dos 300 euros teve o apoio unânime dos parlamentares italianos eleitos a partir do Brasil, mesmo que, depois, tenham defendido, como Porta, a restituição total ou parcial desses valores aos consulados, com o objetivo de reforçar-lhes as estruturas e, assim, melhorar os serviços que prestam aos cidadãos..

“É óbvio – diz ainda Merlo – que quem votou a favor, durante cinco anos, para destruir a rede consular sul americana não queira se manifestar contra si próprio, e isso me parece coerente. Aqueles, que fizeram parte do problema, não podem agora aspirar tornar-se a solução; isso é também coerente”, ironizou o parlamentar.

O parlamentar argentino que fundou seu próprio partido observa ainda que “no governo foram eles que estiveram; nós, na oposição. Chegaremos ao governo (mas como protagonistas) muito provavelmente na próxima legislatura. Ali, sim, as coisas haverão de mudar. Mas nós nunca fomos “peones” (peões) de ninguém que tenha prejudicado os italianos no exterior, disso temos a consciência limpa”.

Ainda sobre o protesto do dia 12, para Ricardo Merlo, o deputado Porta usa a “velha estratégia de falar de quem reivindica uma coisa justa para não falar da reivindicação… sobretudo sendo [eles] responsáveis pela dificuldade que existe, sobretudo no Brasil, o país que mais tem sofrido com essas políticas de governo”.

No grupo “Cidadania Italiana – Área Livre”, com mais de 105 mil inscritos, o debate sobre as manifestações de Porta e Longo (a deputada Renata Bueno até o momento não respondeu às mesmas perguntas de Insieme) a respeito do protesto do dia 12 de outubro passaram a se constituir no tema principal do dia. Um internauta está propondo uma petição on-line “para Porta, Bueno e Longo irem à manifestação” que já conta com diversas caravanas do interior de São Paulo e de outras cidades em organização.