Em vez da explicação e do esclarecimento à comunidade italiana e ao público leitor, a ameaça de processo contra o jornalista. É isso que está acontecendo no caso do afastado conselheiro cooptado do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de São Paulo, Felipe Salgado De Paola (ou de Paula). Seu irmão, conhecido pelo nome fantasia de Diego Mezzogiorno, depois de entrar em contato com a redação por diversas vezes tentando evitar a publicação de notícias sobre o caso, na manhã de hoje informou laconicamente que processará o editor da revista Insieme e deste site em função de três hipotéticos crimes.

Mezzogiorno, que já concedeu inúmeras entrevistas a este site e também à revista (foi inclusive matéria de capa quando anunciava colecionar fraudes no processo eleitoral dos italianos no exterior de 2018) não enumerou quais os crimes: “Você a partir da semana que vem será processado por um advogado que entrará em contato por 3 crimes. Logo, nossa comunicação termina aqui”.

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A ameaça aconteceu na sequência do oferecimento de mais uma oportunidade para o esclarecimento do rumoroso caso que envolve, além do Comites, também o Consulado Geral da Itália em São Paulo, responsável principal e último pela verificação da documentação apresentada, tanto pelos eleitos quanto pelos cooptados.

No último sábado 30/04, o presidente do Comites de SP, Alberto Mayer, comunicou a todo o conselho que Felipe Salgado foi suspenso da condição de conselheiro cooptado pelo prazo de 45 dias. No dia seguinte, domingo, Mayer respondia a questionamento de Insieme que o prazo dado é “para que [Felipe] complete ou reapresente sua documentação de forma a comprovar ser descendente direto de italianos”.

A mensagem endereçada hoje a Diego e Felipe foi colocada num grupo formado exclusivamente pelo editor e pelos dois irmãos. “Diante das informações em nosso poder, e de comentários de natureza diversa nas redes sociais, está cada dia mais difícil sustentar a ancestralidade italiana de seu irmão e, agora, também a sua”.

A mensagem repetia os pedidos de esclarecimentos já antes feitos por telefone em em diálogos escritos: “Reitero mais uma vez que nos municie de provas acerca da sua ancestralidade italiana e a de seu irmão, que, como você disse, está sob sua orientação no caso do Comites de SP”.

A ambos foi, também colocada à disposição “a possibilidade de uma entrevista ou tele-entrevista sua e de seu irmão em que poderão de viva voz dissipar qualquer equívoco ou dúvida que por ventura ainda persista”.

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Após a resposta com o anúncio de processo por parte de Diego, tanto ele quanto Felipe saíram do grupo. É curioso observar que numa recente entrevista para a Rádio Brasitalia, ainda como Conselheiro do Comites de São Paulo, o “tecnólogo em gastronomia” se apresentava como “Felipe Salgado Mezzogiorno de Paola”.

Entenda o caso: Os Comites são formados por conselheiros eleitos e, na proporção de até um terço, por conselheiros cooptados. Enquanto os eleitos necessariamente precisam ser cidadãos italianos formalmente reconhecidos, os cooptados, sem a cidadania reconhecida, são aceitos desde que descendentes de italianos até o quarto grau em linha reta (seja por parte de pai, seja por parte de mãe). Aos consulados compete a verificação documental. Os candidatos são apresentados por uma associação inscrita no consulado da jurisdição, são submetidos ao crivo e votação do conselho até então formado apenas pelos eleitos e, enfim, são empossados.

No caso de Felipe, sua indicação foi feita pela Ital-Uil e, ao lado de outros documentos, foi juntada a certidão de nascimento de de um tal Oscar Mezzogiorno, nascido no bairro napolitano de Stella em 26/02/1901, casado em 13/6/1925 com Anna Mele, e morto também em Nápoles em 27/3/1976. Não foram apresentados documentos que estabeleçam alguma ligação entre o candidato e o cidadão italiano, isto é, não foi comprovada a ligação entre Oscar Mezzogiorno e Felipe Salgado de Paula.

A denúncia oferecida a insieme dava conta de que o problema fora levantado logo após a eleição do nome de Felipe, a quem, em vão, vinha sendo solicitada a necessária comprovação. Houve até a sugestão de renúncia “para evitar escândalos”. Insieme publicou matéria no dia 28/04 e dirigiu questionamento à presidência do Comites-SP e à cônsul adjunta Livia Satullo (que comandou o processo na troca do cônsul titular).

No sábado 30/04, Insieme ficou sabendo que, após entendimento havido com o Consulado, Mayer convocou o conselho para uma reunião virtual através da plataforma Zoom, em que comunicou a suspensão do conselheiro Felipe pelo prazo de 45 dias, durante o qual terá que comprovar sua eventual ascendência italiana.

No domingo, 01/05, o presidente Mayer respondia a Insieme dizendo que “com efeito, as documentações que nos foram submetidas pelos candidatos à cooptação no Coomites-SP foram reanalisadas e verificou-se que num caso a documentação apresentava-se falha por impossibilidade de, através dela, se verificar a anterioridade italiana. Assim é que foi decidido suspender o conselheiro que fora eleito nessas condições de suas funções, dando-lhe prazo para que complete ou reapresente sua documentação de forma a comprovar ser descendente direto de italianos. Se a nova documentação for congruente o conselheiro retomará suas funções”.