Maria José de Luca: a história na primeira pessoa. (Foto perfil FB)

Confesso que senti um misto de emoções, tão intensas e tão inexplicáveis que ainda me é difícil entendê-las. A história é ainda desconhecida para muitos… Um belo dia, nos idos de 10 de fevereiro de 1947, a Itália assinava o Tratado de Paris, no qual cedia para a ex-Iuguslávia uma parte do seu território, dentre os quais a Ístria, onde nasceu e vivia feliz a minha família, que teve pouco tempo para decidir entre ficar ou partir.

Você consegue se imaginar nesta situação? Olhe para você agora e decida: ficar ou partir. Foi assim. Os horrores daquela época eram inúmeros e nenhuma das opções minimizaria a dor dilacerante da perda. Perda de entes queridos, perda dos seus bens, perda da sua identidade. Medo do desconhecido.

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Se ficassem teriam que submeter-se ao regime comunista e mudar de nacionalidade, mudar inclusive de sobrenome, de língua, de religião. Se partissem continuariam italianos e livres, mas teriam que deixar tudo para trás, sua vida e seus familiares. Minha família, como muitas outras, decidiu partir. Não sem dor, muita dor.

Partir… Até o casaco que a minha nonna usava ela teve que deixar na fronteira. No bolso tinha algumas fotos. Ela não pôde pegá-las. Nem isso, nem sequer algumas fotos. Só ficou com a imagem dos seus amados na sua mente, pelos quais chorou de saudades toda a sua vida, até o fim.

E estava a Itália preparada para recebê-los? A resposta é simples: Não. Nossas terras, nossa gente, nossa história foi usada como moeda de troca em nome da “paz”, mas fomos esquecidos e abandonados à própria sorte, expulsos da própria casa e da própria nação italiana.

Fiquei pensando: quem seriam aqueles jogadores? Talvez netos ou bisnetos daqueles que a exemplo da minha família sofreram o mesmo sofrimento, só que ao contrário, na opção de ficar. Foram anos em busca da sua liberdade, reconstruindo a sua vida também do zero. Chorando por algum ente querido que se foi para nunca mais voltar.

De repente me vi torcendo por eles e vendo no suor e nas lágrimas daqueles jogadores o suor do trabalho e as lágrimas das dores dos meus ‘nonnos’, da minha mãe, dos meus tios e primos.

Os jogadores lutaram com garra no jogo até o fim, não se deixando abater pelos gols tomados. Assim como na vida, aquela gente toda, que ficou ou que partiu, foi digna, lutadora, e com muita garra venceu as dificuldades mais assombrosas sem se deixar abater. Sem que as suas lágrimas tirassem a sua força.

A vida sempre nos convida ao perdão, ao bom convívio, à paz. Descobri que uma parte de mim ainda vive ali. Com muito orgulho da minha origem, compartilho aqui um pouco das belezas deste local que mora no meu coração.