Seria correto aplicar, nesse 21 de fevereiro, o velho dito latino ‘Dura lex, sed lex’? Afinal, hoje é o Dia do Imigrante Italiano – data comemorativa que ainda gera polêmicas, opondo opiniões e posições de ítalo-brasileiros e também historiadores dos Estados do Espírito Santo e de Santa Catarina.
O Dia do Imigrante Italiano foi estabelecido em lei (11.687/2008), sancionada em 2 de junho de 2008 por José Alencar, então presidente da República em exercício, uma vez que o presidente Luis Inácio Lula da Silva cumpria agenda no exterior.
A iniciativa de homenagear a gente italiana que escolheu o Brasil como segunda pátria partiu do recentemente falecido senador Gerson Camata (Espírito Santo) autor do Projeto de Lei 2669/2000, que oito anos mais tarde se transformaria em lei, abrindo a polêmica entre capixabas e catarinenses.
Camata, ao justificar o seu Projeto de Lei, levava em conta pesquisas do sociólogo sociólogo Renzo M. Grosselli. No livro “Colônias Imperiais na Terra do Café”, Grosselli relata que Pietro Tabacchi, italiano oriundo de Trento que já se encontrava no Espírito Santo desde o início da década de 1850 morando numa fazenda de sua propriedade, na cidade de Santa Cruz (atual Aracruz).
Ao observar o interesse do Brasil pela mão de obra europeia ele decidiu oferecer terras para os imigrantes em troca do direito de derrubar 3,5 mil jacarandás para exportação. Após um longo período de negociação o Ministério da Agricultura autorizou a Província do Espírito Santo a firmar contrato com Tabacchi, que por sua vez enviou emissários ao Trentino à época sob o domínio austríaco, para capitanear famílias daquela região e do Vêneto.
Assim, no dia 3 de janeiro, às 15 horas, partia do porto de Gênova o “La Sofia”. A chegada ao Espírito Santo ocorreu no dia 17 de fevereiro e o desembarque se prolongou até 27 do mesmo mês. Em 01 de março começou a viagem até o porto de Santa Cruz, em direção à propriedade de Tabacchi.
Para Camata, a pesquisa de Grosselli indicava que Tabacchi comandou a primeira expedição em massa de camponeses da Itália para o Espírito Santo, dando início à epopeia emigratória dos italianos para o Brasil.
No entanto, em 2016, o deputado federal Sérgio Vidigal propôs um Projeto de Lei Complementar(PLC) instituindo no calendário oficial brasileiro o dia 26 de junho “como a Data do Reconhecimento do Município de Santa Teresa, no Estado do Espírito Santo, como Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil”. Dois anos mais tarde, o PLC encaminhado para sanção do presidente Michel Temer se transformava na Lei Federal 13.617/2018.
Vidigal sustentou que no acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) existem centenas de documentos que testemunham esse importante fato histórico para a imigração italiana. Dentre eles está um ofício que mostra a existência de imigrantes na região em outubro de 1874.
Ele ressaltava que a escolha do dia 26 de junho dia foi o sorteio dos lotes aos imigrantes italianos, originando a data oficial de fundação do Núcleo Timbuy e da atual cidade de Santa Teresa.
Cientes de sua própria história, um grupo de catarinenses levantou uma outra versão sobre o pioneirismo da imigração italiana no Brasil. Amparado por pesquisa do historiador Paulo Kons, o Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina defende a tese de que a cidade pioneira da italianidade é São João Batista. Kons relata que em 1836, 132 imigrante do Reino da Sardenha desembarcaram na Colônia Nova Itália, hoje São João Batista.
Polêmicas à parte, que tal encarar essas leis não pela dureza do seu conteúdo, mas pelo simbolismo nelas contido? Vamos deixar que a historiografia se encarregue de trazer luz à essa questão do pioneirismo da imigração italiana no Brasil. De nossa parte o melhor seria brindar no 21 de fevereiro, no 26 de junho, no 20 de maio (Dia da Etnia Italiana no Rio Grande do Sul) e todas as outras efemérides referentes à italianidade no Brasil.