Com 553 sim, 14 votos contrários e duas abstenções, a Câmara dos Deputados consolidou, na quarta e definitiva leitura do tema pelas duas casas legislativas, a redução do Parlamento Italiano: de 945 cadeiras, para 600 (400 na Câmara e 200 no Senado). O corte atinge também a Circunscrição eleitoral do Exterior que, dos atuais 18 parlamentares no total, restarão 12 (8 deputados e 4 senadores). Isto é, o exterior perde 4 deputados e 2 senadores, acirrando ainda mais a disputa nas próximas eleições.

O voto definitivo foi tomado de forma aberta, e superou amplamente a exigida maioria absoluta, que era de 316 votos. Segundo reportam os jornais italianos, a “maioria búlgara” (maioria acachapante e isenta de debates) foi formada com o voto favorável de quase todas as correntes políticas, incluindo as da atual oposição, exceto “Più Europa” e “Noi com l’Italia”. “É só demagogia”, disse o ex-presidente da Câmara dos Deputados, hoje senador Pier Ferdinando Casini.

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O assunto já tinha passado por três debates (um da Câmara e dois do Senado), tendo sempre contrários os votos dos partidos de esquerda, como o Partido Democrático que, agora integrante do governo Conte-Bis, votou a favor, assim como Leu e o recém-formado “Italia Viva”, de Matteo Renzi. “Obtivemos, como pedimos, que o corte dos eleitos seja inserido dentro de um quadro de garantias institucionais e constitucionais que antes não existiam”, declarou o secretário geral do PD, Nicola Zingaretti, ao justificar a mudança de posição do partido. “Lega” de Matteo Salvini, “Forza Italia” de Silvio Berlusconi, e “Fratelli d’Italia” de Giorgia Meloni, mantiveram a coerência, votando a favor.

A nova composição do governo italiano colocou, em relação a essa matéria, no mesmo lado forças anteriormente antagônicas e que litigaram longamente entre si, como o PD de Fabio Porta e o Maie de Ricardo Merlo.

Com a nova lei, muda a relação numérica de representação, tanto na Câmara (um deputado para cada 151.210 habitantes – hoje era 96.006) como no Senado (um senador para cada 302.420 habitantes – hoje era 188.424). Na Circunscrição Eleitoral do Exterior, essa relação, que já era desproporcional, ficou ainda maior. Considerando-se um número redondo de 5 milhões de eleitores, teremos um deputado para cada 625.000 eleitores e um senador a cada 1.250.000 eleitores.

O grande argumento para o corte do número de parlamentares sempre foram os custos da política. Mas, segundo o deputado Luis Roberto Lorenzato (Lega – América do Sul), a obra resta incompleta: “Acho importante toda reforma para cortar despesas, porém o corte deveria não ser apenas no Parlamento, mas em toda administração pública nacional”, disse ele a Insieme no início da tarde.

Já o presidente do Comites – ‘Comitado degli Italiani all’Estero’ em Curitiba, e diversas vezes candidato Walter Antonio Petruzziello (ele é o coordenador do Maie no Brasil), entende que o novo desenho do Parlamento italiano “mais uma vez vem em detrimento do Brasil” e favorecerá ainda mais a Argentina, pois a toda a América do Sul caberiam apenas três cadeiras de deputado e uma de senador. “Se já era difícil eleger alguém, imagina agora”, diz ele em mensagem de voz onde analisa rapidamente o panorama criado para o Brasil.

Já o ex-deputado Fabio Porta, coordenador do PD na América do Sul, acredita que o corte dos parlamentares “na ausência de uma nova lei eleitoral e da superação do ‘bicameralismo perfeito’ (iguais funções entre Senado e Câmara) seja um erro”. E aduz: “Erro ainda maior foi a redução do número dos parlamentares eleitos no exterior, na contramão do aumento do número de inscrições no Aire, que cresce em todo o mundo graças à nova imigração e à cidadania “ius sanguinis”.

Porta ainda observou a Insieme agora no começo da tarde que “quem haverá de perder é a Itália”, acrescentando que foi uma pena “não ter ouvido sequer uma palavra ou um pronunciamento no plenário a respeito disso por parte de nossos eleitos na América do Sul, a partir daqueles eleitos no Brasil. Triste e miserável”.