Mariano Gazzola, vice-secretário geral para a América Latina do CGIE (Foto Desiderio Peron / Revista Insieme)

O comportamento do cônsul de Curitiba, Raffaele Festa, incluindo sua atitude censória, será tema da próxima reunião do comitê de presidência do CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, que acontecerá em Roma, de 5 a 7 de novembro próximo. “Acho que seja o lugar para discutir este tema com as autoridades da “Direzione Generale per gli Italiani nel Mondo” (Gerência Geral para os Italianos no Mundo), disse hoje à tarde o ítalo-argentino Mariano Gazzola, integrante de cúpula do órgão.

“É uma coisa verdadeiramente surpreendente” – disse Gazzola, que é o vice-secretário do CGIE para a América Latina. “Algumas informações sobre o comportamento do cônsul Festa em relação ao Comites (‘Comitato degli Italiani all’Estero’) eu já obtivera seja do conselheiro [Luis] Molossi, e especialmente do presidente [Walter] Petruzziello. Agora fico sabendo sobre a censura à Insieme!

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Gazzola termina sua mensagem expressando “minha total vizinhança e solidariedade” e dizendo que isso “é verdadeiramente ultrajante (“veramente indignante”). Segundo Insieme apurou, Gazzola procurou junto a integrantes do Comites PR/SC mais informações sobre o comportamento do cônsul Festa no atendimento à comunidade ítalo-brasileira sob sua jurisdição.

Embora a questão já venha desde a reunião do Intercomites realizada em Curitiba logo após a sua posse como cônsul, há mais de dois anos, a censura passou a ser explícita com um documento fornecido pela própria autoridade consular ao comunicar ao presidente do Comites PR/SC, através de e-mail,  as condições para sua participação numa assembléia convocada para agosto último (depois adiada e até agora não realizada).

Nela, Festa dizia que não poderiam ocorrer gravações de áudio ou vídeo, e apenas a ata da sessão registrada pelo secretário habilitado, não podendo este ser “ad hoc”. Além disso, as propostas em debate teriam que ser novas, e não podendo repetir temas abordados em precedentes reuniões. Na última reunião do Comites, em Curitiba, Festa retirou-se do recinto ao ser questionado por um dos conselheiros sobre soluções para problemas da comunidade.

Na questão do registro em video ou áudio, a proibição de Festa tinha em mira principalmente a Revista Insieme. Conforme advertências verbais anteriores, ditadas ao próprio presidente do Comites, o editor da revista estava proibido de participar das assembléias que, pela lei são públicas, “armado” de câmeras ou, mesmo, celulares. Mas, além do registro jornalístico, a proibição de Festa sobre registros do encontro avançava até mesmo nas gravações usadas para a confecção das atas pela secretaria da entidade.

A publicação do mais recente ato de censura do cônsul, no sábado à noite, desencadeou uma série de críticas à obstacularização do trabalho da imprensa em evento público e oficial do governo italiano (que acabou sendo gravado por diversas outras pessoas, conforme já publicamos). Além de pronunciamentos já publicados e da decisão de incluir o tema na pauta da próxima reunião da presidência do CGIE, no final da tarde o ex-deputado Fabio Porta e atual secretário geral do PD – Partido Democrático para a América do Sul enviou mensagem ao editor de Insieme: “Parabéns pela postura corajosa, coerente e – antes que tudo – cidadã! Nenhum evento da comunidade italiana aqui em São Paulo proibiu a presença de fotógrafos, jornalistas ou repórteres. Pelo contrario: divulgação e informação são o “sal” e a “pimenta” que nunca pode faltar aos nossos eventos. Conte comigo quando o assunto é liberdade de expressão e imprensa”.

O dramaturgo, ator e diretor Roberto Innocente, voltando de Minas Gerais onde produziu e apresentou em diversas cidades, ao lado da soprano Marcia Kaiser e do pianista Matheus Alborghetti, a conferência-espetáculo “Itália em Cena – viagem na história teatral e musical italiana das origens aos dia de hoje” também se manifestou: “Coloco minha “vergogna” por ser representado na cidade onde vivo por um “console” que não demonstra respeito por nada que tem a ver com a Itália, nem imprensa, nem cidadãos. Sorte que nos outros lugares do Brasil, nos outros consulados não é assim. “Vergogna” dupla pensar que no encontro dos cônsules do Brasil e com representantes oficiais do governo e embaixador etc. isso será o que se vai mostrar. Tem coisas melhores”.

O conselheiro do Comites e advogado Elton Stolf – um dos críticos da atuação de Festa, é enfático ao observar a falta de habilidade do cônsul não apenas em relação à entidade de representação da comunidade italiana local e à imprensa, mas também no atendimento à própria comunidade, onde o descontentamento é geral. E cunhou o hashtag #forafesta.