Graças às câmeras não censuradas pelo cônsul Raffaele Festa, os leitores de Insieme têm a oportunidade de apreciar alguns trechos do recital de música de câmara “Romanças Italianas de Tosti”, apresentadas no evento de encerramento da ‘Settimana della Lingua Italiana’ na jurisdição consular de Curitiba. O evento, concluído com um “cocktail” oferecido pelo cônsul, aconteceu sábado à noite, nas dependências do “Salão Guido Borgomanero” do Centro Cultural Ítalo-Brasileiro Dante Alighieri.

Do recital foi protagonista principal o próprio cônsul Raffaele Festa que, ao piano, acompanhou o tenor Vincenzo Cortese na interpretação de peças do compositor italiano Francesco Paolo Tosti, com Ideale, L’ultima canzone, ‘A Vuccella, Tormento, Marechiare e Non t’amo più, com intermezzo de “Cavalleria Rusticana”, de P. Mascagni.

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Pasquale Amato, Francesco Paolo Tosti ed Enrico Caruso 1914 (Foto wikipedia)

Francesco Paolo Tosti é um compositor e cantor italiano, conhecido como o autor de famosas romanças de salão ou de câmara. Último dos cinco sobreviventes do casamento do negociante de cereais Giuseppe Tosti, ele nasceu em Ortona, no Abruzzo, em 9 de abril de 1846 e morreu em Roma em 2 de dezembro de 1916. São de sua autoria mais de 50 obras, dentre elas, além das já citadas, “Notte Bianca”, “Vorrei”, “La Mia Canzone”, “Tristezza”. Muitos dos textos de suas canções foram escritos por Gabriele D’Annunzio. Em 2016 foi comemorado o centenário de sua morte. “Tosti – conforme se pode ler no site da Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos – ABAL – não era um compositor de ópera, mas suas canções o tornaram mundialmente conhecido e amado por todos os que apreciam ouvir uma combinação perfeita entre textos e música.

A “Settimana della Lingua Italiana” é evento mundial promovido pelo governo italiano e este ano, de 21 a 27 últimos, foi realizado em sua 19ª edição, celebrando a “Itália no palco”, com mais de mil espetáculos cadastrados. No Brasil, todos os consulados realizaram eventos, seja diretamente ou seja em parceria com associações locais.

O espetáculo apresentado na Dante Alighieri é o mesmo que está no programa da reunião do “Sistema Itália”, a realizar-se em Curitiba de 11 a 13 de novembro próximo, nas dependências do Teatro Regina Casillo, com a presença da rede consular italiana que opera no Brasil, representantes de instituições italianas ligadas à cultura e economia, lideranças políticas e inclusive a provável presença do subsecretário da Farnesina para os italianos no exterior, o senador Ricardo Merlo.

A proibição imposta a Insieme de registrar o evento na Dante Alighieri pelo cônsul Raffaele Festa constituiu a enésima iniciativa no sentido de cerceamento e boicote ao trabalho da “imprensa italiana”, conforme já divulgamos anteriormente, envolvendo também censura sobre os trabalhos do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ da jurisdição. O assunto já foi levado ao conhecimento do senador Ricardo Merlo, do embaixador Antonio Bernardini e de outras autoridades e lideranças políticas.

Hoje pela manhã, o presidente do Comites, advogado Walter Petruzziello, manifestou-se sobre o episódio de sábado nos seguintes termos: “Caro Peron, leio com espanto e surpresa a notícia publicada em Insieme, que o jornalista foi proibido de registrar com vídeo o encerramento da Settimana della Cultura Italiana. Acredito que se tratou de um ato de censura sem nenhuma previsão legal e sem sentido, a não ser por motivos pessoais de relacionamento entre as partes envolvidas. A imprensa, em geral, e Insieme em particular não podem sofrer censura em seu trabalho de informar e divulgar as atividades que dizem respeito à comunidade italiana em geral. Vale lembrar que toda atividade, independente de qual seja, exercida pelo Consulado Geral da Itália è direcionada à Comunidade a qual interessa e que tem o direito de se ver informada de tais atividades. O ato de censura impetrado contra a Revista Insieme afronta a lei e a liberdade de imprensa, ainda mais que tal censura ocorreu fora da sede consular (cuja imunidade de jurisdição poderia ser invocada). Esperemos que tais fatos sejam apreciados pelas autoridades italianas e que a normalidade democrática e a liberdade de imprensa seja repristinada na nossa circunscrição consular, inclusive nas reuniões do Comites que passa por idêntico processo. Att. Walter A. Petruzziello – Presidente Comites Curitiba”.

Ontem, domingo, o também advogado e conselheiro do Comites Luis Molossi, já havia condenado a atitude do cônsul, escrevendo a seguinte mensagem ao editor de Insieme: “Vi a matéria e me solidarizo com a Revista Insieme, que é muito maior que os caprichos de um cônsul, avesso ao convívio com a comunidade, que não seja “aqueles” que ele ou seus conselheiros mais próximos estão a “selecionar” e indicar para as mais variadas atividades, das quais temos a nítida sensação de não sermos bem-vindos, quando não formalmente convidados. Já fazem meses que não visito o consulado. Não me sinto à vontade, não me representa. Vou aproveitar a presença do Sottosegretario Merlo na cidade, nos dias 12 e 13/11, para relatar algumas manifestações, que reputo sejam reclamações formais, que nos chegam e que serão formalmente entregues ao mesmo. Como ainda não as recebi formalmente, não as posso avaliar, mas certamente serão repassadas ao representante do Governo Italiano”.

Outro conselheiro do mesmo Comites a tomar posição foi o advogado e professor Elton Diego Stolf que, em longa mensagem postada nas redes sociais, deplora o ocorrido para dizer que “nossa comunidade ítalo-brasileira está em péssimas mãos, de um cônsul que não respeita nossos valores, nossa história, nossas raizes, nossa organização, não escuta nossos reclames legítimos e dignos do conselho que representa a comunidade oficialmente e, pior, censura descaradamente um dos principais veículos de comunicação da imprensa Italo-brasileira. Essa palhaçada não é de hoje. Em defesa da imprensa livre e da insiste me manifestei naquela reunião do Comites na qual foi impedido de participar”.

Dentre outras manifestações de apoio e solidariedade recebidos, citamos o da jornalista e professora de italiano em Curitiba, Paola Andri, que assim comentou no Facebook: “Como jornalista, fico extremamente preocupada com esta atitude, que nos remete a tempos obscuros de nosso país, que conheci somente pelos livros e relatos de amigos, por sorte minha, pois creio que se tivesse nascido um pouco antes, dificilmente teria sobrevivido. Como italiana, sinto uma profunda tristeza, por ter nossa cultura e “representação” tratadas de maneira pedante, desrespeitosa e absolutamente cretina”.

Já o jornalista Eduardo Fiora, de SP, ironizou a censura no artigo que publicamos, onde faz um pergunta, no final: “Festa com alma e coração italianos em São Paulo dedica atenção especial aos jornalistas, afinal, a cobertura do evento e sua difusão massiva ou capilar, sem custo algum, garante visibilidade plena. E exposição máxima, em evento de qualidade e ainda por cima de caráter beneficente, tem como resultado casa cheia (…) Será assim em outras capitais do Brasil?”.