Mesmo procurando não se aprofundar em questões de política interna, o embaixador da Itália no Brasil, Francesco Azzarello, disse esperar que com reformas administrativa e tributária o Brasil venha a se tornar “um país mais competitivo” no âmbito internacional, como todos almejam.

Como exemplo, ele citou o caso do vinho: “No momento atual, o Brasil certamente é muito fechado aos fluxos comerciais. Um vinho que na Europa custa três euros, aqui você paga 20, 25 euros. Três euros contra 20, 25 euros!” observou o diplomata.

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Referindo-se ao “probleminha brasileiro”, disse que as “barreiras à entrada” constituem entraves à expansão do comércio bilateral entre Brasil e Itália. Isso poderá mudar, também segundo Azzarello, com a retomada das negociações para o acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Será “uma coisa muito importante para os dois blocos”, “o maior acordo, creio, do mundo para a liberalização da economia e da aceleração dos fluxos bilaterais”, considerou.

Azzarello falou sobre o tema durante a entrevista coletiva à imprensa concedida na sua primeira visita oficial a Curitiba desde a sua chegada no Brasil, há dois anos, respondendo a quesito específico levantado pela  representante da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná – Fecomércio-PR, que queria saber sobre medidas para o aumento do intercâmbio comercial entre os dois países.

Como fizemos com outros temas abordados (sua agenda e objetivos da visitas, o acordo UE-Mercosul, o problema das filas da cidadania, a nova sede consular de Curitiba), transcrevemos a seguir na íntegra as considerações do embaixador Francesco Azzarello:

“O comércio já é um discurso um pouco mais complicado que o da indústria, dos investimentos, como você sabe muito bem, caso contrário não teria feito esta pergunta. O dado positivo é que o comércio bilateral vem aumentando constantemente. Certo, a pandemia não ajudou. Mas durante a pandemia, os dados aumentaram. Os dados do ano passado estão melhores que os de 2019. E não lembro muito bem, mas tenho os dados do Ministério da Economia brasileira, que foram publicados uma semana atrás.

Mas existe um probleminha brasileiro, que são as barreiras à entrada. Eis a importância da entrada do acordo UE-Mercosul. O acordo UE-Mercosul – se você permitir um momento – deve ser ratificado por todos os parlamentos europeus. Mas se ele for assinado, ele pode ser aplicado imediatamente no setor comercial. O acordo UE-Mercosul seria uma coisa muito importante para os dois blocos. Seria o maior acordo, creio, do mundo para a liberalização da economia e da aceleração dos fluxos bilaterais.

Claro, também na Itália, quando a negociação estava ativa, nós tínhamos certos setores, como por exemplo o do agro negócio, que não estavam contentes. Mas é a balança que se deve considerar. Certamente o acordo vai criar algum problema para setores que são protegidos internamente. Mas a economia se deve ser liberalizada. O conceito – não os setores estratégicos, sociais, isso é diferente – é que as indústrias devem se modernizar. Pode-se também mudar de setor… é uma questão de eficiência do mercado.  Tudo bem, este é um ano eleitoral quando nada pode ser feito. Mas eu creio e esperamos que no próximo ano o acordo UE-Mercosul seja destravado. Isso seria muito importante para o Brasil – e para outros países do Mercosul – e também para a Itália. Haveremos de aumentar tudo.
No momento atual, o Brasil certamente é muito fechado aos fluxos comerciais. Um vinho que na Europa custa três euros, aqui você paga 20, 25 euros. Três euros contra 20, 25 euros! Quando eu falo com os políticos em Brasilia, eu digo sempre: você deve… primeiro, os vinhos brasileiros têm pontas de excelência. Os espumantes são todos muito bons. Você precisa ter a consciência – provavelmente você ainda não a tem completa – que você pode competir nos mercados internacionais.

Nós temos muitos produtores de casas vinícolas ítalo brasileiros. Mas para fazer isso, você deve também abaixar a taxa. O vinho é considerado como um luxo. Não! É uma questão de cultura do vinho que vai crescendo… pouco menos cerveja, se não a barriga aumenta…
Então… um bom copo de vinho tinto – eu prefiro tinto, mas pode também ser branco ou rosé – à noite (porque às 13hs não, a gente tem que trabalhar depois) à noite… Todos os médicos, as dietas [recomendam] com um copo de vinho tinto (não assim [grande], mas assim normal), à noite pode-se beber.

Então, portanto, é uma questão de barreiras… Mas é uma questão também um pouco mais complicada, porque aqui você vai pagar outros custos administrativos, todas as taxas… mas eu não vou comentar. Esperamos que o Brasil, na reforma administrativa, na reforma tributária, [mude] para fazer do país um país mais competitivo. Mas isso todo mundo diz. É uma questão um pouco política, e política complexa. Tudo bem?”