Pedir o apoio formal do cônsul geral da Itália em Curitiba para as causas da Adanpib – Associação dos Descendentes e  Amigos do Núcleo Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil, este foi o objetivo da visita realizada ontem (sexta, 19) por uma comissão de São João Batista-SC ao cônsul Salvatore Di Venezia. Além do transcurso do 185º aniversário da fundação da Colônia Nova Itália, em março próximo, a entidade já se prepara para os festejos do bicentenário da Imigração Italiana no Brasil, incluindo uma imaginada viagem à terra de origem de um grupo de descendentes daqueles que aqui chegaram em 1836, provavelmente no dia 19 de março, dia de São José.

Integraram a delegação o historiador Paulo Vendelino Kons, representando também a Adanpib; o secretário de Desenvolvimento e Meio Ambiente de São João Batista, Plácido Vargas; e o jornalista Daniel Rufatto. Segundo eles, Di Venezia acolheu todas as reivindicações da delegação, incluindo seu apoio à difusão e ensino da língua e cultura italiana na região e gestões para o reconhecimento formal da data como o “núcleo pioneiro da imigração italiana no Brasil”.

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Embora o Dia do Imigrante Italiano seja nacionalmente festejado hoje (21) em decorrência de Lei Federal que celebra a chegada da chamada “Expedição Tabacchi” no Espírito Santo, em 1874, lideranças da comunidade italiana em Santa Catarina contestam a informação e, além de ações no âmbito político, preparam-se para uma “guerra jurídica” pelo restabelecimento da verdade histórica.

Ontem, após terem estado com o cônsul Di Venezia, Kons e Vargas concederam entrevista gravada à revista Insieme. Segundo eles, participaram do encontro também o presidente do Comites – “Comitato degli Italiani all’Estero’ para o PR e SC, Luis Molossi, e o conselheiro Elton Stolf. Essa – disse o historiador Kons – “não é somente uma questão do Vale do Tijucas Grande, da comunidade batistense, ou do povo catarinense: é a verdade histórica da terra brasileira, da nossa amada Pátria Brasil que não pode ser relegada ao olvido ou esquecimento”. Publicamos, a seguir, trechos da entrevista contida no vídeo que acompanha esta matéria:

A Adanpib – Associação dos descendentes e amigos do núcleo pioneiro da imigração italiana no Brasil, em parceria em estreita articulação com o poder Executivo e o Poder Legislativo das terras batistenses do Município de São João Batista, no Médio e Alto Vale do Rio Tijucas Grande, através do representante oficial do Município se reuniu com o sr Cônsul Geral da República Italiana em Curitiba com jurisdição nesse Estado do Paraná em nossa querida Santa Catarina. No limiar do bicentenário da imigração italiana para o Brasil, nós vemos inicialmente saudar e dar as boas-vindas ao novo Cônsul Geral. 

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Em seguida solicitamos o apoio para o levantamento dos arquivos das casas museais e instituições arquivísticas da Itália, especialmente da região e do Piemonte da Ligúria, o entorno do Porto de Gênova onde, no início 1836, foram embargados 186 imigrantes italianos que, no limiar do mês de março, possivelmente no dia dedicado ao padroeiro da igreja e pai de Cristo, São José, aportou no porto de Nossa Senhora do Desterro, na Ilha de Santa Catarina. E estes  foram os fundadores do núcleo pioneiro da imigração italiana no Brasil, a Colônia nova Itália, no Alto Vale do Rio Tijucas Grande. 

Nós também solicitamos a possibilidade de um apoio na celebração de um convênio com um ‘comune’  italiano, como cidade irmã ou algo assemelhado. No terceiro momento, pedimos apoio para aperfeiçoarmos a difusão da língua e da cultura italiana em nosso município e região, com apoio, material didático e outras formas possíveis, para que possamos não só ler e fluentemente falarmos em italiano, mas aprendermos a sonhar também como estes que deixaram esta região há quase 200 anos. 

E, evidentemente, isso tudo também tendo em vista essa celebração do bicentenário, envolvendo a chancelaria brasileira e o órgão equivalente da República Italiana, chamando e conclamando a todos para que, além do reconhecimento oficial deste núcleo colonial da Colônia Nova Itália como pioneiro da colonização italiana no Brasil, também podermos interagir, integrar e fazermos o reverso: após 200 anos, nós, a nossa Colônia Nova Italia, revisita a sua terra de origem, a Pátria Mãe.

Fomos surpreendidos com a gentileza, a disponibilidade e o compromisso do senhor Cônsul Geral da República da Itália em Curitiba e também com outros líderes desta área da cultura, da história, do intercâmbio, da interação ítalo-brasileira que lá se faziam presentes. Com a graça de bom Deus iremos correr excelentes frutos e daremos passos entre Adanpib e o governo Municipal de São João Batista, com o Consulado Italiano em Curitiba e, porque não dizer, com a própria República Italiana.

Há algum tempo já, o movimento questiona a primazia atribuída ao Espírito Santo, através de lei federal, na questão da imigração italiana no Brasil. Como é que está essa questão, presidente?

Nós inicialmente entendíamos que, como o equívoco foi cometido nas duas casas congressuais da República Brasileira, era lá que se iria dirimir as dúvidas e corrigir o erro. Infelizmente nós sentimos da parte de alguns parlamentares, inclusive de Santa Catarina, que foram, no mínimo, indignos de serem nossos representantes. Então, além de projeto de lei que revoga essa ignomínia histórica, e que firma a verdade histórica incontroversa por sinal, nós também tivemos que bater às portas do Judiciário: ação popular, Ação Direta de Inconstitucionalidade que está em formatação ainda, envolvendo a Assembleia Legislativa, o Governo do Estado e, evidentemente, uma ação civil pública em nome do governo do Município de São João Batista e da Associação dos Descendentes e  Amigos do Núcleo Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil. Temos assessoria jurídica do ex-Procurador-Geral de Justiça por duas gestões, Dr José Galvani Alberton. 

E nesse grupo nós temos uma série de pessoas que estão se prestando a servir Santa Catarina: o ex-governador e senador Casildo Maldaner; e ex-governador e atual senador Esperidião Amin, o desembargador Carlos Alberto Civinski; Gilberto Callado de Oliveira, emérito Corregedor-Geral do Ministério Público; o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, ao lado de tantas outras personalidades, ao lado de Saulo Sardo, presidente da Adanpib; todos os seus dirigentes da diretoria executiva, do Conselho Fiscal e do Conselho de Administração; e uma plêiade de abnegados, de amigos, como o professor Juliano Martins Mazola, de Nova Trento, que também tem estado tão empenhado em conosco resgatar e assegurar a verdade histórica.

Porque não é somente uma questão do Vale do Tijucas Grande, da comunidade batistense, do povo catarinense: é a verdade histórica da terra brasileira, da nossa amada Pátria Brasil que não pode ser relegada ao olvido ou esquecimento pela irresponsabilidade de alguns parlamentares que não se fazem merecedores do voto, do sufrágio, do bom povo de Santa Catarina, porque nos traíram e foram concitados a reparar o erro e nada fizeram.

Como é que a comunidade está reagindo ao movimento? Ela participa ativamente ou é passiva nesse movimento?

A Colônia Nova Itália, a partir de dona Dinha, com seu 108 anos que completa no alvorecer do mês de abril – ela é filha de imigrante, que chegou numa imigração posterior – até a mais jovem criança, que já tem noção de mundo, de sociedade, em uníssono somos unidos pela verdade da história: a Colônia Nova Italia é o núcleo pioneiro da imigração italiana no Brasil. Ponto final, amém e assim seja.

Sobre a colônia (apud Wikipedia): A Colônia Nova Itália (ou Dom Afonso) começou a constituir-se em 1836 na então província de Santa Catarina (Brasil) com a chegada da Europa de 132 imigrantes do Reino da Sardenha, que foram colocados pelo italiano Carlos Demaria e pelo suiço Hennrique Schutel, à margem do rio Tijucas Grandes, imediações de São João Batista, então pertencente ao município de São Miguel. Para a primeira instalação o governo provincial fez aos empreendedores uma concessão especial de mil braças, com caráter provisório e ainda não demarcadas, à qual foi posteriormente acrescida outra de duas léguas em quadro, compreendendo as duas margens do rio. 

Em virtude da lei provincial n. 7 de 15 de junho de 1836 os concessionários eram obrigados a demarcar as terras no prazo de dois anos e a distribuir os lotes no máximo e quatro anos. Pelo fato de não ter sio obedecido esta cláusula e por ter surgido um litígio com os outros interessados, na primeira concessão, o certo é que a fundação da colônia foi cheia de lutas e de dificuldades. 

À primeira leva de colonos não sucederam outras. Em 1837 houve uma incursão de bugres e em 1838 sobreveio grande inundação, o que causou a retirada de muitos colonos. Em fins de 1838, só existiam ali 30 famílias com 122 pessoas. Em 1839, tendo nascido na colônia 14 e sendo assassinados pelos bugres 8, existiam 128 pessoas. Em 1842 houve um pequeno aumento, sendo registrados 29 famílias com 133 pessoas. A seguir houve contestações entre os empreendedores, colonos e outros interessados e, por fim, mesmo com o próprio governo provincial que queria obrigar os contratantes à demarcação da concessão, obrigação esta expressa na lei já citada. 

Os colonos foram muitos oprimidos pelos administradores do empreendimento. Há alguns relatos de fatos que atestam o ocorrido. 

Em 1854 a colônia era considerada como que fazendo parte da freguesia de São João Batista, não possuindo regime especial de colônia e regendo-se como os demias vizinhos pelas leis comuns. Seus habitantes eram católicos e viviam em harmonia com os naturais do país, cujos costumes em pouco tempo adotaram.