“Tenho bastante defeitos, mas não me falta vontade de trabalhar e de fazer as coisas da melhor forma possível”. Com essas palavras, o ex-presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Rio de Janeiro, e candidato a uma das quatro vagas do Brasil no CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, Andrea Lanzi, encerrou a tele-entrevista concedida a Insieme, na sequência da apresentação das ideias de cada um dos que aspiram a representação dos ítalo-brasileiros junto ao CGIE.

A eleição será no dia 9 de abril próximo, em Brasília, durante a “Assembléia País” convocada pela Embaixada da Italia no Brasil. A escolha dos novos representantes acontece de forma indireta, em que são eleitores todos os conselheiros eleitos e ‘cooptados’ dos sete Comites que funcionam no Brasil, num total de 120 nomes, mais 54 delegados de associações designadas pela Embaixada. Além de Lanzi, até agora são conhecidas as candidaturas (ainda não oficializadas) de Ana Maria Cani – ES, Daniel Taddone – PE, Pasquale Pierrini – DF, Renato Sartori – SP, Silvia Alciati – MG, Stephania Puton – RS e Walter Antonio Petruzziello- PR). O prazo para as inscrições de candidaturas termina “10 dias antes da data da assembléia”.

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Andrea Lanzi é presidente da Associação de Intercâmbio Cultural Itália Brasil
Anita e Giuseppe Garibaldi e durante quase trinta anos trabalhou no ‘Patronato Inca’. Como presidente do Intercomites do Brasil, contribuiu para que a Embaixada retirasse  um ‘vademecum’ ou roteiro para a uniformização dos serviços consulares no setor da cidadania que dificultava em vez de facilitar. Ele entende que todo o trabalho desenvolvido em prol dos interesses da comunidade italiana constitui a maior credencial para a sua candidatura ao CGIE.

Para ele que já foi candidato nas eleições de 2015, o CGIE é “um órgão para reivindicar soluções” em temas de interesse da comunidade italiana e, portanto, não deve fazer política partidária. Lanzi foi o principal articulador de uma das tendências nas eleições dos Comites, agrupados sob a denominação ‘Giustizia e Libertà”, que o senador Fabio Porta divulgou como sendo apoiada por seu partido, o PD – Partito Democratico, em contraposição a ‘Italianità in Movimento’, que teve o apoio do senador Ricardo Merlo (Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’).

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O candidato Lanzi advoga a necessidade de um trabalho conjunto entre todos os Comites do Brasil, promovendo inclusive eventos de natureza cultural, assim como também, segundo explicita na tele-entrevista, a necessidade de unificação dos cadastros dos Ministérios do Interior e das Relações Exteriores italianos, para facilitar não só os procedimentos eleitorais mas, também, todo o trabalho de reconhecimento da cidadania italiana em todo o mundo.

Ele também acha que uma das primeiras coisas a serem realizadas pelo novo CGIE é dar sequência à reforma da legislação institutiva do Conselho e também dos Comites, conferindo-lhes mais poderes. Essa reforma chegou quase a ser aprovada pelo Parlamento em legislaturas anteriores. Sobre a atuação do CGIE ao longo dos cerca de 30 anos de sua existência, Lanzi aponta como positiva a “reversão de tendência” na destinação de recursos à área consular. “É suficiente”, pergunta ele, e ele mesmo responde: “Não, mas pelo menos reverteu a tendência negativa”.

Outra ideia defendida por Lanzi é a realização anual, em assembléia, de todos os eleitores dos quatro Conselheiros. “Quero colocar em movimento – diz ele – uma luta para melhorar as coisas, dando voz e atuação conjunta a eleitos e quem os elegeu”. Além da vídeo-entrevista, Lanzi remeteu a posteriori suas respostas por escrito:

O que motiva sua candidatura?
Faz mais de 30 anos que moro no Brasil, antes em São Paulo e desde 1997 no Rio de Janeiro. Trabalhei 27 anos no Patronato INCA CGIL que defende os direitos previdenciários e assistenciais de quem contribuiu na Itália ou no Brasil. Sou presidente da Associação Intercâmbio Cultural Itália Brasil Anita e Giuseppe Garibaldi e de 1999 até 2013 diretor de redação da Forum Democrático, revista da nossa associação que tivemos que fechar por falta de recursos. Completei dois mandatos no Comitês de Rio de Janeiro e Espírito Santo em dezembro passado, nos últimos quatros anos como presidente. Nos últimos três anos foi presidente do InterComites. Acho que pelo histórico tenho os requisitos para me candidatar ao CGIE.

Como vê o papel do CGIE no sistema de representação institucional dos italianos no mundo?
O atual CGIE depois de uma ampla consulta com os Comites fez de tudo para que o parlamento aprovasse uma reforma do sistema de representação das comunidades italianas no exterior sem conseguir alcançar o resultado. Na minha opinião a reforma deve ser uma prioridade do próximo mandato atualizando e fortalecendo os poderes destas entidades (Comites de CGIE) também tendo em conta da diminuição dos eleitos no exterior no próximo parlamento que passam de 18 para 12.

Como analisa a atuação da representação brasileira no CGIE até aqui?
A pergunta me parece mal colocada e não gosto de pessoalizar as questões. Os representantes do Brasil no CGIE me parece que apoiaram a gestão unitária desta entidade que – vale a pena ressaltar- funciona através de Comissões Temáticas e Comissões Continentais. Lendo as propostas de uns candidatos, me parece que estão confundindo o papel dos membros CGIE de um país com o papel do InterComites que é completamente diferente; é evidente que precisa do apoio e da solidariedade do CGIE ao InterComites, mas são tarefas diferentes. O CGIE é um órgão consultivo e se queremos que tenha mais peso político para que seja mais escutado, precisa também de usar um pouco de fantasia: porque não se comprometer a convocar a cada 18 ou 12 meses uma assembleia de todos os conselheiros Comites e das associações que participam do encontro em Brasília? E se for o caso lançar uma petição popular? Foi com uma petição popular que obrigamos em 2018 o então Ministro do Interior Matteo Salvini a retirar o projeto de lei que previa o limite de duas gerações para a transmissão da cidadania.

Ao longo da história do CGIE, que vem do final do século passado, que ações ou fatos podem ser enumerados como positivos para a comunidade italiana no mundo? Quais suas grandes falhas?
Sublinho mais uma vez que os efetivos poderes do CGIE, sem a reforma que todos esperavam, são limitados. Neste último mandato o CGIE conseguiu reverter uma tendência que via de longe de diminuição dos recursos para os italianos no exterior; depois de muitos anos assistimos a um aumento da verba que é ainda insuficiente mas que está aumentando. O que você define como falhas, eu diria que são derrotas: umas das maiores derrotas foram a redução do número de parlamentares eleitos no exterior e o sistema de votação para a eleição dos Comites com a inversão da opção (o eleitor devia se cadastrar). Votaram para eleger os Comites e de consequência o CGIE menos de 4% dos eleitores; somos mais fracos e não mais fortes.

Desde que foi instituído o voto por correspondência no exterior, o CGIE ficou um pouco sem função, dizem, e também um pouco à deriva de partidos. Na sua opinião é o CGIE que serve aos partidos e/ou parlamentares eleitos no exterior, ou o contrário?
Não me parece que a influência e a briga partidária seja muito presente; o problema é que as questões dos italianos no exterior não são consideradas uma prioridade mas nem uma coisa significativa por parte dos partidos e do Parlamento. Obviamente não significa negar que uns parlamentares eleitos no exterior sejam muito dedicados e competentes.
Como se posiciona diante do direito de sangue de milhões de ítalo-brasileiros?
Defendo a manutenção da atual legislação e o princípio pelo qual o filho de um cidadão italiano é italiano; seria oportuno superar a discriminação contra a mulher italiana que teve filhos nascidos antes de 01/01/1948. Garantir a cidadania italiana ao filho menor de estrangeiro residente na Itália, depois de completar o ciclo escolástico, me parece uma questão de justiça.

No caso específico do Brasil, que diz da atuação do CGIE em relação ao crônico problema das filas da cidadania e tudo o que a ela se relaciona, incluindo a disparidade na ação consular sobre o tema?
É mais uma questão que tem a ver com o InterComites e nunca faltou o apoio dos membros CGIE Brasil.

Que propostas apresenta, objetivamente, caso seja eleito?
É evidente que precisa de um trabalho em conjunto de Comites, InterComites, associações e eleitos CGIE; mas eu diria também que precisa entrar em contatos com as Câmaras Italianas de Comércio, com os professores de italiano, com as prefeituras e as Regiões italianas “gemeladas” com Estados e prefeituras brasileiras, para ver se tem outras ideias e experiências interessantes. Umas das prioridades que gostaria lembrar, sublinhando que não podem ser fruto da ação pessoal de quem for eleito mas de um compromisso coletivo, são:
• a) Reforma do CGIE e dos Comites dotando os órgãos de representação dos italianos no exterior de mais poderes;
• b) Favorecer atividades conjuntas dos Comites no Brasil, como se iniciou a fazer no último mandato: seminário dos jovens em Brasília em preparação do seminário mundial da juventude em Palermo; concerto lírico em 2020 na ocasião da festa da República e do Natal; reedição do livro “do outro lado do Atlântico” do professor Angelo Trento.
• c) Melhora nos serviços consulares aplicando as melhores práticas em todos os Consulados com o objetivo de facilitar o reconhecimento da cidadania italiana e não de criar dificuldades (exigir as retificações só nos casos onde a linha de descendência não é clara; traduzir só a documentação do requerente). Unificar os arquivos do Ministério do Interior e das Relações internacionais diminuindo enormemente o cargo de trabalho dos consulado e dos municípios