Michel Bortolini, autor da carta ao embaixador Antonio Bernardini. (Foto Cedida).

Uma carta endereçada através de e-mail ao embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, narra mais um episódio de descortesia no atendimento do consulado Geral da Itália em Curitiba, desta vez envolvendo diretamente o próprio cônsul Raffaele Festa.

O fato, ocorrido dia 13 de setembro último, é narrado por Michel Bortolini que – segundo diz – inicialmente não sabia que estava falando com o próprio cônsul ao comparecer para a emissão de seu passaporte italiano. “Me dirijo a vossa excelência para relatar e expressar minha indignação com relação a maneira com a qual fui tratado no Consulado Italiano em Curitiba”, assim começa a carta de Bortolini.

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Cidadão italiano por matrimônio anteriormente residente no Rio Grande do Sul, Bortolini transferiu sua residência para Joinville-SC e, como consequência, também atualizou seus dados cadastrais. Segundo ele, mesmo informado por uma funcionária do consulado de que sua situação estava perfeitamente em ordem, a autoridade consular mandou-o realizar novo agendamento e, de forma hostil assegurou que “você complicou todo o processo, você não deveria ter solicitado a transferência do Aire, deveria ter requerido o seu passaporte no local onde realizou o juramento”, perguntando: “você possui o Decreto do ‘Ministero del Interno’ ou alguma evidência que fez o juramento?”

Bortolini, segundo narra na carta ao Embaixador, solicitou mais informações sobre os documentos que estavam sendo exigidos além daqueles contidos descritos no site do próprio consulado e sobre as razões da negativa por escrito, e recebeu da própria autoridade consular um convite para se retirar da sala, pois “já lhe informamos tudo o que você precisa saber” e “necessitamos continuar a trabalhar” . Questionado quem era (até então Bortolini não sabia tratar-se do cônsul em pessoa), recebeu outra resposta agressiva: “isso não é importante”. A carta de Bortolini, vai a seguir, na íntegra:

Excelência Sr. Antonio Bernardini
Meu nome é Michel Bortolini, cidadão residente na cidade de Joinville – Santa Catarina, e me dirijo a vossa excelência para relatar e expressar minha indignação com relação a maneira com a qual fui tratado no Consulado Italiano em Curitiba.

No dia 13/09/2018 as 12h00 compareci ao consulado com agendamento para solicitar a emissão de meu passaporte, agendamento este que foi realizado a 1 mês atrás, utilizando serviços de terceiros, devido as inúmeras tentativas sem êxito da minha parte.

Feito todo o processo de entrada no consulado e já aguardando o meu agendamento, fui chamado para entrar na sala, ao lado dos guichês, e logo na entrada fui informado por uma gentil senhora, a qual não sei o nome, mas estava sempre disposta a ajudar, que possivelmente tínhamos um problema, por algum motivo o meu cadastro naquele consulado constava como “estrangeiro”.

Na mesa a minha frente, sentava um senhor de terno e gravata, que aparentava não estar em sua mesa de trabalho, e claramente exaltado com a minha situação cadastral (em minha saída do consulado questionei quem era aquele Sr. e fui informado que tratava-se do Sr. Raffaele Festa); ele questionou-me “porquê da transferência do seu AIRE para Curitiba?”, informei que foi devido a minha mudança de residência de Caxias do Sul – RS para a cidade de Joinville – SC, e também, que havia sido informado pelo consulado de Porto Alegre, que com essa mudança deveria realizar a transferência do AIRE para o consulado competente, neste caso o Consulado Italiano em Curitiba, bem como, que deveria sempre manter meus dados atualizados.

Em seguida, a gentil senhora, mencionada anteriormente, enquanto o Sr. Festa questionava-me, fez uma procura no Anagrafe mundial e quando questionada pelo Sr. Festa, confirmou que minha situação como cidadão Italiano é legítima, e que o mesmo constava no cadastro de Porto Alegre, e que não compreendia o motivo da divergência no cadastro de Curitiba. O Sr. Festa voltou a questionar-me, desta vez de forma mais hostil e com nítido semblante aborrecido, “onde está seu comprovante de residência?”, informei que não tinha em minha posse naquele momento, pois não constava na lista de documentos para a emissão do passaporte. O Sr. Festa de forma ríspida e hostil falou-me “você complicou todo o processo, você não deveria ter solicitado a transferência do AIRE, deveria ter requerido o seu passaporte no local onde realizou o juramento”, neste caso, Porto Alegre. Sempre de forma exaltada, solicitou-me “você possui o Decreto do Ministero dell Interno ou alguma evidência que fez o juramento?”, respondi que possuía apenas o decreto em meu poder. De forma exacerbada ele comenta com a gentil senhora “nada pode ser feito neste caso, não se tratava de uma cidadania de nascença e sim por matrimônio, você terá que reagendar uma nova visita ao consulado munido de comprovante de residência e evidências do juramento (verbal de juramento)”.

Incerto de qual documento de juramento eles estavam se referindo, bem como, sobre qual foi a origem do problema (minha documentação ou comunicação entre consulados), questionei se poderiam explicar-me em mais detalhes o ocorrido e relatar precisamente (por escrito) qual documento de comprovação de juramento estavam se referindo, ambos rejeitaram prontamente o meu pedido de por escrito descrever o nome do documento, no entanto, a gentil senhora aceitou explicar as possíveis causas do ocorrido. Neste momento o Sr. Festa de forma abrupta interrompeu-a durante sua explicação, e de forma oposta a um comportamento diplomático obrigou o enceramento da conversa alegando que “já lhe informamos tudo o que você precisa saber” e convidou-me a sair da sala dizendo que “necessitamos continuar a trabalhar”. Por fim, perguntei o nome do Sr. Festa (até então eu não sabiam de quem se tratava), ele recusou-se a me informar o seu nome dizendo “isto não é importante”.

O fato e a forma que fui tratado me deixou transtornado frente ao tamanho descaso e falta de respeito com o cidadão. Independentemente de sua nacionalidade e/ou formato a qual adquiriu sua cidadania, todo cidadão merece ser tratado com respeito!

Receba sua excelência a minha mais distinta consideração. Respeitosamente, Michel Bortolini”.