Começa nesta segunda-feira, num escritório de advocacia em São Paulo, a ‘Task-Force’ de investigação sobre falhas, fraudes eventualmente ocorridas e vulnerabilidades das últimas eleições italianas no exterior, especialmente no Brasil e na América do Sul. O processo ocorreu na segunda quinzena do mês de fevereiro.

Segundo Diego Mezzogiorno, à frente da iniciativa com a adesão de quase todos os partidos e candidatos que participaram do pleito, “o objetivo é centralizar todas as reclamações e denúncias realizadas até aqui e as novas que forem surgindo para a formulação de dois objetivos: anular o processo eleitoral atual, cuja apuração ainda não terminou em Roma devido a investigações da Justiça Italiana, e propor um novo modelo de eleição para evitar que os argumentos já levantados acabem com o direito de voto dos italianos no exterior”.

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Segundo Mezzogiorno, a ideia surgiu depois que ele tomou a iniciativa, nos últimos dias da eleição, de coletar, através da Câmara Ítalo-Brasileira de Indústria e Comércio de Santa Catarina,  os votos retardatários nas principais cidades catarinenses para transportá-los ao consulado da Itália em Curitiba. “Minha iniciativa foi imediatamente ‘desaconselhada; por autoridades italianas – explica ale – e sofri inclusive ameaças de processo, enquanto cidadãos, a serviço de candidatos ou entidades diversas, realizavam esse trabalho informal e sem restrições”.

Após o encerramento das eleições, a primeira iniciativa – acrescenta Mezzogiorno – foi conversar com os partidos participantes do processo que, prontamente e de forma quase unânime, passaram a apoiar a ideia que rapidamente tomou corpo com o número de relatos e denúncias que foram surgindo. O escritório de advocacia de um dos candidatos – Fabio Vicenzi – tem sede no Brasil e em Roma e “isto facilita as coisas”, explica, aduzindo que cada partido poderá, querendo, nomear advogados para acompanhar o desenvolver das investigações.

A força-tarefa começa nesta segunda-feira com coordenação centralizada em São Paulo e não tem data marcada para conclusão. Os trabalhos deverão se estender, além do Brasil, para países como a Argentina, Uruguai e outros. Na argentina, conforme denúncia formulada pelo ex-deputado Fabio Porta, as denúncias envolvem cerca de dez mil votos somente em Buenos Aires.

Também os candidatos Andrea Dorini e Cesare Villone anunciaram, em nota à imprensa, que “não haverá descanso enquanto as denúncias de fraude não forem apuradas”. Na nota, eles perguntam, por exemplo, quem imprimiu e quem distribuiu as cédulas eleitorais. Também o candidato Walter Fanganiello Maierovitch escreveu que “não devemos esquecer que nas eleições parlamentares anteriores comentou-se, muitíssimo, sobre fraudes e manipulações e o senhor Porta manteve-se em silêncio sepulcral”. Em outra matéria, Fanganiello dizia taxativamente que “O sistema eleitoral italiano precisa ser drasticamente reformado”, enquanto sua colega de chapa, a candidata ao senado Silvana Rizzioli também denunciou irregularidades e citou os “serviços postais sem controle italiano”.

Segundo Mezzogiorno, deverão ser também levantados dados relativos aos serviços de impressão das cédulas, tarefa confiada a cada consulado, e à distribuição do material eleitoral pelos correios. “É a fase em que o atual processo eleitoral italiano no exterior escapa das mãos do Estado para ficar nas mãos de terceiros”,  explica ele.

“A comunidade italiana hoje é refém do processo e não há com quem reclamar” em casos absurdos que ocorrem, prossegue Mezzogiorno, e isso inclui as listas dos cidadãos com direito a voto fornecidas pelo Ministério do Interior que privaram centenas de milhares de pessoas do direito de voto “sem nenhuma explicação plausível”. Segundo ele, em poucos dias, mais de mil pessoas passaram a informar terem sido privadas do exercício do direito de voto mediante o fornecimento de nomes, e-mails e até fotografias. Esse trabalho será desenvolvido em todos os Estados com a colaboração de todos os candidatos e pessoas interessadas em participar das investigações.

No mundo inteiro há informações de que mais de um milhão de pessoas teriam sido “retiradas” das listas eleitorais. “Nós queremos saber qual foi, efetivamente, o tamanho do dano causado”, explica Mezzogiorno. O primeiro candidato a se pronunciar sobre a discrepância das listas eleitorais da Circunscrição Eleitoral do Exterior foi o também então candidato Walter Petruzziello, presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’.

“O processo está ‘inquinato’ (poluído) do começo ao fim”, sentencia o conselheiro da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio de Indústria de Santa Catarina que promete para o início dessa semana a divulgação de mais detalhes da operação, incluindo endereços aos quais as pessoas poderão se dirigir para colaborar nas investigações. No vídeo que gravamos com Mezzogiorno, ele explica outros detalhes da operação.