Sem nenhuma explicação ao público, o nome e a foto dele foram retirados há poucos instantes do site do Comites de SP, e Felipe ‘Mezzogiorno’ Salgado de Paola (ou de Paula) não é mais conselheiro da entidade: esgotado o prazo de 45 dias dado para que ele apresentasse documentos que comprovem a sua alegada ancestralidade italiana, nada aconteceu. O seu “desligamento” do quadro de membros do órgão de representação institucional da comunidade italiana paulista foi comunicado pelo presidente Alberto Mayer na assembleia da entidade realizada na noite de ontem (21/06).
“Estamos com um conselheiro a menos” teria dito Mayer na abertura da sessão. No final do encontro, questionado por alguns dos presentes, o presidente teria informado que não houve ato formal de renúncia nem de expulsão, apenas uma carta de Felipe “pedindo desculpas pelo transtorno causado”. O ‘italiano de ocasião’ chegou a praticar atos formais inerentes ao cargo, o mais notório deles na eleição dos representantes do Brasil perante o CGIE – ‘Consiglio Generale deghi Italiani all’Estero’, onde votou integrando o colégio eleitoral que teve todas as despesas pagas pelo erário italiano.
Como já divulgado, Felipe foi eleito como conselheiro ‘cooptado’ do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de SP após indicação de seu irmão Diego Oliveira Paula, mais conhecido pelo nome fantasia de “Mezzogiorno”, por intermédio da Associação Ital-Uil, entidade que patrocinou sua candidatura.
No ato de inscrição, Felipe apresentou à representante da associação, Daniela Dardi, que também integra o Comites na condição de revisora de contas, um documento de hipotético ancestral de nome Oscar Mezzogiorno, nascido no bairro napolitano de Stella em 26/02/1901, casado em 13/6/1925 com Anna Mele, e morto também em Nápoles em 27/3/1976. A veracidade do documento não foi verificada, disse Dardi a Insieme: “Uma vez que ele é representante da Câmara de Comércio italiana (de Santa Catarina – NR), pessoa conhecida, portanto, e o documento apresentado é italiano, aceitamos o documento como válido, mesmo porque não somos despachantes para correr atrás de documentação”
A legislação exige que os cooptados (até o limite de um terço dos conselheiros eleitos) sejam pessoas sem a cidadania italiana reconhecida formalmente mas necessariamente ítalo-descendentes até o quarto grau. No ato da inscrição de sua candidatura Felipe não provou, nem dele foi então exigido, que estabelecesse a ligação entre o seu nome e o do alegado ancestral napolitano. O Comites aprovou seu nome que, como os demais, foi submetido ao Consulado Geral da Itália em SP. A autoridade consular também teria chancelado seu nome sem a devida verificação documental.
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Durante as eleições do CGIE, em Brasília, no início de abril último, já circulavam rumores sobre a irregularidade e muitos dos que cumprimentaram Felipe e seu irmão Diego Mezzogiorno em circulação pelo Centro Internacional de Convenções, local da assembleia eleitoral, já sabiam que nos bastidores a “candidatura Mezzogiorno” (essa era a referência) vinha sendo contestada. A imprensa, entretanto, não pode documentar a votação, mas vários participantes confirmaram que Felipe depositou seu voto na urna como os demais delegados eleitores.
O assunto veio a público somente depois que Insieme publicou matéria dando conta de que “existiria um infiltrado entre os cooptados do Comites de São Paulo”. Com ‘Tu vuò fa l ‘italiano’, o título da matéria jocosamente lembrava a célebre canção de Renato Carosone (‘Tu vuò fa l’americano’) e perguntava: “Associação-Comites-Consulado: onde a falha?”.
Embora na sequência de matérias tenha sido apurada a origem da candidatura, a pergunta continua no ar. Até o momento não foram dadas explicações públicas por nenhum dos órgãos envolvidos, nem a Embaixada, nem o Consulado e, ultimamente, nem mesmo a própria presidência do Comites, que não respondeu aos dois últimos questionamentos de Insieme.
O prazo que havia sido dado para Felipe comprovar sua ascendência italiana esgotou-se dia 14 último. Antes disso, Insieme chegou a receber ameaça de processo por parte de Diego Oliveira Paula, sedizente “Mezzogiorno”, que pretendia silenciar o questionamento sobre a irregularidade, alegando que o veículo estaria “fazendo o jogo” de eventuais adversários políticos seus. Tanto Diego quanto Felipe foram instados pela revista a apresentarem documentos que comprovassem alguma ascendência italiana de ambos, em contraposição a toda a documentação enviada à redação que evidencia a completa ausência de qualquer vinculação dos dois a antepassados com origem na Itália.
O assunto chegou ao Parlamento Italiano, onde o deputado Luis Roberto Lorenzato apresentou, dia 18 de maio último, juntamente com outros nove deputados da Lega, questionamento ao Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional, em que denuncia o caso e pede “controles mais eficazes” para evitar “a desnaturalização da representação das comunidades italianas no exterior”. No pedido de informações por escrito Lorenzato cita nominalmente o caso de Felipe, que, já investido na função de conselheiro, chegou a dar entrevista à emissora radioweb do Comites do Rio de Janeiro identificadoi pelo nome fantasia de Felipe Salgado Mezzogiorno de Paola”.