A cidadania italiana dos nove integrantes da Famiglia Scavazza que tinha sido cassada por decreto do ex-cônsul da Itália em Curitiba, Raffaele Festa, foi restabelecida pelo consul atual, Salvatore Di Venezia. O ato aconteceu no finalzinho do ano passado, segundo informa o arquiteto e professor universitário Marcos Carrilho, um dos descendentes de Irinea Scavazza, originária do município de Ospedaletto Euganeo, na província vêneta de Pádova.
O decreto de Festa – sem a necessidade de recurso judicial – foi revogado atendendo a uma simples ‘diffida’ (pedido formal de esclarecimento) promovido por advogados italianos contratados pela família. Em entrevista exclusiva à revista Insieme, Marcos Carrilho, além de confirmar o restabelecimento dos direitos à cidadania italiana, agradece a pronta ação do cônsul Di Venezia e tece severas críticas à forma de atuação de seu antecessor.
No decreto de cassação da cidadania, Festa alegou falsificação do documento obtido pelo próprio arquiteto Marcos Carrilho e sua mãe, quando ainda viva, no final do século passado, diretamente do serviço cartorial do município de origem da família. Até hoje não está claro como Festa teve acesso a uma correspondência dirigida ao consulado de São Paulo que, de qualquer forma, por duas vezes desconsiderou observações do chefe do serviço de registro civil do município italiano, reconhecendo a cidadania de outros irmãos do arquiteto.
Sem diálogo e sem consultar ninguém, conforme Insieme publicou na época, o cônsul simplesmente decretou a cassação da cidadania reconhecida há cerca de 20 anos, ignorando também extenso esclarecimento dos fatos por parte dos interessados. O assunto chegou a ser levado ao Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ pelo conselheiro Elton Stolf e sobre ele pronunciou-se também o então presidente, Walter Petruzziello.
Carrilho assegura que até o momento a família não cogitou adotar qualquer medida no âmbito judicial por eventuais danos, mas ele narra os problemas que teve em decorrência do “ato arbitrário e impensado” de Festa. Professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, Carrillo teve atuação também no Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de SP e no Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e viajava constantemente à Itália para estudos em sua área de atuação. No período da cassação de sua cidadania estava negociando a compra de imóvel na Itália que lhe possibilitasse períodos mais longos de permanência na bota.
Na próxima edição, a revista Insieme publicará, na íntegra, a entrevista com o professor, onde ele explica o “grande significado que essa relação com a Itália” tem para ele. Por ora ele aguarda que as comunicações feitas por Festa ao Município, à Procuradoria da República e Delegacia de Polícia de Pádova, aos Ministérios do Interior e Exterior da Itália, aos Consulados da Itália em SP e Belo Horizonte e a “todos os interessados” sejam também tornadas sem efeito para evitar problemas futuros.
Na entrevista, o arquiteto diz entender que esse “não foi um episódio gratuito, não foi uma ocorrência furtiva”, mas “deve ter alguma motivação que deu origem a uma medida tão drástica e sem fundamento. Para mim é, evidentemente, uma atitude política”. “O consulado – disse ele ainda – é uma instituição que deve ser mais acolhedora. Na verdade, é uma instituição que existe para assegurar o direito dos cidadãos italianos. Então ela não pode resistir ao contato direto; na verdade, deveria fazer o contrário, estreitar as relações, tornar-se mais acessível, não obstante eventuais dificuldades que tem que ser administradas”.