“Se porventura nós formos confirmados candidatos, e se vencermos as eleições, certamente este vai ser um dos temas principais a entrar no debate por um cadastro único”. Assim o empresário Emir José Parisotto, que encabeça a chapa ‘Italia nel Mondo’ na presente eleição do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de Porto Alegre-RS, define uma das principais tarefas a ser enfrentadas diante do desencontro cadastral dos eleitores italianos que residem fora da Bota.
É em parte devido às deficiências ou desencontros desses cadastros (o dos municípios italianos, que deveria ser o mesmo do Ministério do Interior e o dos consulados que são atualizados pelos cidadãos) que sua chapa, a depender de anunciados recursos no âmbito judicial, poderá se tornar única, fazendo do Rio Grande do Sul a única área do Brasil onde não haverá disputa.
A concorrente ‘Italia per tutti‘ foi impugnada pela comissão eleitoral do Consulado da Itália em Porto Alegre por falta de apenas uma subscrição de apoio à chapa que apresentou 99 assinaturas consideradas válidas (de um total de 130 assinaturas recolhidas), quando o número exigido é 100.
A assinatura faltante não obteve a resposta tempestiva do ‘nulla osta’ por parte da comuna (município) italiana, segundo relatou em vídeo-entrevista a presidente do Comites, Rosalina Zorzi. A situação ainda não é definitiva, pois ambas as chapas aguardavam a ata contendo as decisões da comissão eleitoral. Além de Porto Alegre, houve impugnação de uma chapa das três que concorriam na jurisdição consular do Rio de Janeiro e existem informações de pendências ainda em discussão com uma das chapas que concorrem na jurisdição consular do Distrito Federal.
As eleições para a renovação dos Comites está em curso e os eleitores (todos os cidadãos inscritos no Aire perante o consulado de sua jurisdição) têm prazo até o dia 3 de novembro próximo para solicitar o envio do envelope eleitoral. Antes desse envio, cada consulado deverá conferir se o requerente é eleitor regular. Em consequência disso, em tese, poderão ocorrer problemas semelhantes aos ocorridos com os apoiadores das chapas inscritas.
O problema de desencontro de dados entre os cadastros sempre existiu desde que foi instituído o voto dos italianos no exterior. Há relatos de eleitores que, já tendo recebido o ‘envelope eleitoral’ em eleições anteriores, deixaram de receber em outras. Para fins eleitorais, de nada valem as atualizações que os cidadãos realizam junto a seus consulados se os dados não forem transcritos tempestivamente nos municípios italianos de proveniência.
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Na vídeo-entrevista que concedeu à revista Insieme, Parisotto, além de falar sobre alguns planos de trabalho de sua chapa, onde pontua a “integração maior entre as comunidades italianas” e a necessidade de mais informação aos cidadãos, procurou explicar o episódio que culminou com a impugnação da chapa “Italia per tutti”. Defendeu o trabalho da presidente atual, Rosalina Zorzi.
Em função da chamada “inversão de opção”, quando os cidadãos já inscritos no Aire (o cadastro geral dos eleitores italianos no exterior) precisam realizar outra inscrição para poder votar, Parisotto repete o bordão: “Vamos ter mais candidatos que votos”. Ele se refere à dificuldade que está percebendo entre as pessoas diante da realização dessa tarefa prévia ao voto.
Deixando claro que não pretende defender o consulado italiano, mas “apenas justificar”, Parisotto argumentou que muitas das falhas apontadas decorrem da falta de funcionários. Questionado sobre a taxa dos 300 euros cobradas sobre cada pedido de reconhecimento de cidadania, valor que é devolvido ao consulado de origem na proporção de 30%, ele concorda que “é função do Comites” fiscalizar sobre o recebimento do recurso e sua aplicação e “vamos executá-la”.
De resto, o atual conselheiro do Comites do Rio Grande do Sul, para quem 33% da população do Estado é de origem italiana, entende que para que os Comites consigam executar algumas das tarefas que lhe são cobradas, seria antes necessário a mudança da legislação – competência da representação parlamentar dos italianos no exterior.