Reprodução do comunicado da Embaixada da Itália no Brasil sobre a reabertura de sua página FaceBook

Uma semana após ter sido retirada da internet, a página oficial da Embaixada da Itália em Brasília no Facebook voltou hoje a funcionar com um “comunicado” aos usuários. “Esperamos que a página possa voltar a ser um local de ‘encontro’ civil e construtivo, onde trocar informações e ideias”, diz o comunicado em português, também publicado no site da própria Embaixada.

O serviço, iniciado no final do mês de janeiro, foi interrompido na tarde do dia 1º último, depois que internautas passaram a criticar o nível de atendimento consular da embaixada aos usuários e a emitir juízo de valor sobre a própria página, que desceu para 1,1. Mas imediatamente após a volta da página sem, naturalmente, as críticas que ali tinham sido postadas (muitas delas podem ser vistas aqui), os internautas voltaram à carga criticando as filas de espera e outros problemas que deram origem à interrupção. “Vocês só querem uma conversa construtiva se estivermos de acordo com o que falam? Não funciona assim” – escreveu, por exemplo, José Richieri.

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No “Comunicado sobre a suspensão do Facebook da Embaixada” dirigido aos “prezados usuários”, que é publicado sem assinatura, a representação diplomática admite ter fechado o serviço devido às críticas que classifica como “uma série coordenada de protestos”, decorrentes, principalmente, dos problemas relacionados ao “ao reconhecimento da cidadania jure sanguinis, que no Brasil envolvem uma comunidade potencial de mais de 30 milhões de pessoas”.

A nota está lavrada nos seguintes termos: “Prezados usuários, nos últimos dias fechamos nossa página no Facebook, devido ao fato que esta foi invadida por uma série coordenada de protestos.

Somos cientes dos demorados tempos de espera que caracterizam a oferta de alguns serviços consulares não somente neste País, mas na inteira América do Sul, em especial os inerentes ao reconhecimento da cidadania jure sanguinis, que no Brasil envolvem uma comunidade potencial de mais de 30 milhões de pessoas.

Queremos, porém, reafirmar com firmeza que o pessoal junto às estruturas da Rede diplomático consular no Brasil é empenhado diariamente com enorme dedicação na oferta de serviços da maneira mais eficaz possível, em face de um aumento exponencial de usuários e de uma limitada disponibilidade de recursos humanos.

As mídias sociais utilizadas pela Rede diplomático consular italiana no Brasil constituem ferramentas úteis para a promoção das atividades e das iniciativas organizadas pelas diferentes Sedes, bem como pelas associações e organizações que colaboram com a Embaixada da Itália na promoção da língua e cultura italianas e para o fortalecimento das relações entre Itália e Brasil.

Esperamos que a página no Facebook da Embaixada possa voltar a ser um local de “encontro” civil e construtivo, onde trocar informações e ideias”.

REAÇÕES – As reações dos internautas na própria página da Embaixada vão desde a cobrança do retorno de pelo menos parte dos 300 euros que vêm sendo cobrados há três anos para cada processo de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue até considerações que se estendem à rede consulado em operação no resto do país. “Não é só a embaixada, não. O consulado de Curitiba é complicado também”, escreveu Bruno Colonnelli R. Marinho. “Acorde, Embaixador, melhore os serviços consulares da Embaixada. Pior serviço consular do Brasil”, repetiu Salvador Scalia, ex-presidente do Comites – Comitato degli Italiani all’Estero” do Recife. “A taxa dos 300 euros está sendo destinada pra quem? Vocês precisam entender que não estamos pedindo nenhum favor, queremos apenas algo que é nosso por direito desde o ventre materno”, escreveu outro internauta.

Algumas ironias também se destacam entre as críticas formuladas. Amália Astarita, por exemplo, diz que pensava que “os italianos eram mais fortes pra aguentar o ‘tranco’ [críticas, nr]. Qualquer coisa, correm da da guerra”. Ela termina dando os “parabéns aos nossos ‘antenatos’” , pois esses, sim, é que “foram corajosos”.

Outras narrativas fazem um cotejo entre serviços consulares diversos. Fernanda Sartori diz que quando foi, acompanhada do marido, que é português, ao Consulado de São Paulo, deixaram-no “esperando na calçada, literalmente”, ao impedir seu ingresso, enquanto ela, quando acompanhou o marido no Consulado de Portugal, teve tratamento gentil e cordial. “Somente gostaríamos de ser tratados com respeito… e que a lei italiana seja cumprida”, escreveu Netto Puglia.

Outro internauta vai além: “Por que não se pronunciam sobre as filas secretas? Quem está na fila? Qual é a ordem? Quem será chamado? Quem foi atendido? Parem de besteira, estão agindo feito criança mimada”, observa Canisio Barth Junior. E Gracielle Cinosi completa: “Não querem reclamações? Sejam transparentes. Fila secreta na embaixada parece até piada. A sede diplomática deveria dar o exemplo aos demais consulados. Telefones não atendem, e-mails não tem respostas e tudo fica por isso mesmo? Melhorem o serviço consular e terão elogios no lugar de críticas!”

Sobre a até então inusitada onda de críticas públicas aos serviços consulares da Embaixada Paulo Sérgio de Oliveira observa que  “não foi nenhuma invasão. Foram cidadãos italianos descontentes com serviços mal prestados, filas longas e nada transparentes. Falta de respeito com prazos e do cidadãos que não são atendidos nessa embaixada. perda de documentos.Não justifique. Faça as coisas pra melhorar. Manifestações são feitas para que vocês saiam dessa zona de conforto achando que o serviço que seria obrigação de vocês prestaram está bom. Não está bom. Pior embaixada italiana que existe”.

Às vezes, análises e críticas descambam para questões mais profundas, como essa que postou Mauro Morvillo Hemelly Santos Moura, em italiano: “La questione é che potete ancor avere un pó di sangue italiano nelle vene… ma dovreste passare per un test psico attitudinale prima si essere iscritti, ciò vuol dire che passerebbe solo l’1% di voi, in quanto nati e cresciuti qui siete contaminati a furia di tele novelle e ‘feijao com arroz’ (a questão é que vocês podem ter ainda um pouco de sangue italiano nas veias… mas deveriam ser submetidos a um teste de atitude psicológica antes de serem inscritos, isto quer dizer que passaria apenas 1% de vocês, uma vez que nascidos e crescidos aqui estão contaminados pela fúria de telenovelas e feijão e arroz). E a resposta de Nando Cingolani vem bem humorada: “Mínino 1 ano sem feijão, arroz, telenovelas, sem cuspir, sem tirar camisa na rua, sem usar chinelos fora da praia, sem ficar bêbados cada final de semana…”

Uma observação (devido à falta de pontuação adequada, pois não se sabe se afirmação ou pergunta) relativa à onda de imigrantes ilegais que invade a Itália, ainda sem comentário, do mesmo Mauro Morvillo: “Vi conviene arrivare di barca o gommone il processo é piu semplice” (para vocês é mais conveniente chegar de barca ou bote de borracha o processo é mais simples).