Língua, cultura, ‘ius sanguinis’, imigração, filas, negócios, discriminação, burocracia,   serviços consulares e muito mais…


As luzes estão se apagando sobre os chamados ‘entes gestores’ que funcionam no o fomento do aprendizado da língua e da cultura italiana no Brasil. Outrora numerosos e com muitos alunos, eles estão quebrando. Só existem mais quatro, dois deles estão com as contas bloqueadas e provavelmente não receberão mais financiamentos do governo italiano. Então, restarão apenas dois.

 

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Esta foi uma das preocupações manifestadas durante o debate promovido pela Revista Insieme entre os candidatos às quatro vagas do Brasil perante o CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, gravado na noite de ontem (07/04). Outra grande preocupação, ao lado de temas relacionados às filas da cidadania e passaporte, obstrucionismo e atendimento consular, ‘made in Italy’ em geral e preservação da história da imigração, esteve centrada na expectativa que cresce em função do julgamento marcado para 12 de julho da ’Corte Suprema di Cassazione’ sobre a questão da Grande Naturalização brasileira e renúncia tácita à cidadania ‘iure sanguinis’.

 

Conforme foi proposto no debate, organizar uma “vigorosa manifestação” tendo em vista esse julgamento seria a primeira tarefa do novo CGIE, a partir da eleição. A discriminação contra as mulheres na transmissão da cidadania ‘iure sanguinis’ antes de 1948, acatada incondicionalmente pela justiça mas negada administrativamente pelo governo italiano, também ocupou espaço importante no debate que, após editado, dura 1hora e 45 minutos.

 

Ao debate compareceram seis dos nove candidatos até aqui inscritos: Ana Maria Cani, do Espírito Santo e presidente do Comites da circunscrição do Rio de Janeiro; Cilmar Franceschetto, conselheiro do mesmo mesmo Comites; Daniel Taddone, conselheiro do Comites do Recife; Pasquale Perrini, conselheiro do Comites do Distrito Federal; Silvia Alciate, atual conselheira do CGIE, de Belo Horizonte; e Walter Petruzziello, ex-conselheiro do CGIE e ex-presidente do Comites da circunscrição consular de Curitiba-PR.

 

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Não pode comparecer a conselheira do Comites de Porto Alegre, Stephania Puton, envolvida na recepção do embaixador Francesco Azzarello ao Rio Grande do Sul, o mesmo ocorrendo com Renato Sartori, ex-presidente do Comites de São Paulo, por motivos profissionais, segundo justificou. O ex-presidente do Comites do RJ, Andrea Lanzi, havia confirmado, mas à última hora resolveu não participar, discordando da realização do debate sem a participação de dois dos candidatos.

 

Aos candidatos que não puderam participar foi oferecida a oportunidade de enviarem vídeos para serem inseridos na fase da apresentação e nas considerações finais, ficando fora apenas do debate que ocorreu de forma tranquila e respeitosa, apesar do clima de disputa que reina entre as diversas correntes. Ambos os candidatos impedidos declinaram. Anteriormente, nas últimas duas semanas, todos os candidatos (exceto Renato Sartori, que não agendou a sua entrevista embora convidado) foram entrevistados individualmente pela revista Insieme, com abordagem sobre temas comuns a todos.

 

A moderação do debate, conforme adredemente combinado, só se ateve à apresentação e ao controle técnico dos trabalhos, uma vez que cada candidato ficou livre para perguntar o que quisesse e a quem quisesse ao longo de duas rodadas, estabelecidas por ordem alfabética crescente e decrescente. Das perguntas levantadas pelos candidatos foi assim também a visão e o grau de preocupação de cada um dos pretendentes à representação dos ítalo-brasileiros perante o CGIE.

 

Embora a escolha dos representantes da comunidade ítalo-brasileira no CGIE ocorra de maneira indireta, uma vez que são eleitores apenas os 120 conselheiros dos Comites e representantes individuais de 54 associações escolhidas pela Embaixada, o debate promovido pela revista Insieme interessa a toda a comunidade calculada em 35 milhões de ítalo-descendentes.

 

A cobertura jornalística do processo eleitoral, em Brasília, conforme já informamos, não será permitida. A Embaixada alega orientação superior: “Na abertura da sessão a imprensa local poderá efetuar, mediante explícito pedido, breves tomadas de vídeo e tirar algumas fotografias”. Os próprios candidatos, como se pode ver aqui, discordam da restrição, enquanto os conselheiros de Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ estão subscrevendo uma petição criticando a censura imposta e solicitando que o trabalho da imprensa seja respeitado nos termos do artigo 21 da Constituição da República Italiana: “A imprensa não pode ser sujeita a autorizações ou censuras”