Ao expor sua ideia sobre como a tecnologia poderia suprir a alegada deficiência de pessoal nos consulados italianos que operam no Brasil para a análise dos pedidos de reconhecimento da cidadania iure sanguinis, o especialista em desenvolvimento de software Eduardo Alves da Silva acabou revelando segredos não utilizados do sistema Prenot@mi de agendamento consular, que ultimamente vem sendo muito discutido.

Correndo atrás de seus próprios interesses, Eduardo descobriu, por exemplo, que o Prenot@mi é um sistema com inúmeras funções que podem ser customizadas, isto é, personalizadas ao sabor de cada consulado, incluindo a famosa fila de inscrições conforme a ordem de chegada para quem não consegue – seja para a cidadania, seja para o passaporte – agendar devido à limitação do número de vagas.

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Eduardo Alves da Silva, nascido em São Paulo (Cubatão, na Baixada Santista), trabalha há já algum tempo em Blumenau-SC, é certificado pela AWS (Amazon Web Services) como Arquiteto de Soluções em Nuvem Associado, tem especialização em Engenharia de Sistemas pela ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil; graduação em Automação Industrial e técnico em Desenvolvimento de Sistemas pelo IFSP – Instituto Federal de São Paulo.

Ele assegura, por exemplo, que a ação dos robôs nos agendamentos pode ser dificultada com um simples clique oferecido pelo próprio sistema (um captcha invisivel), que oferece ainda muitas outras possibilidades na entrega dos serviços consulares. Num consulado italiano dos Estados Unidos, segundo ele, pelo menos “uns 15 serviços” estão habilitados, inclusive aquele que permite ao cidadão colocar-se na fila de espera e de gerar um documento automático como prova dessa inscrição.

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Se aplicado no Brasil, sistema permitiria que alguém, que venha tentando durante meses ou anos um agendamento sem consegui-lo, obter alguma preferência sobre outrem que, cheio de sorte, alcançasse a possibilidade de um agendamento na primeira ou segunda tentativa. O técnico explica essas e outras possibilidades em vídeo entrevista concedida à revista Insieme na tarde do dia 20/02.

Há algum tempo, ele conseguiu gerar uma inscrição e receber a confirmação dela através de e-mail no Prenot@mi do Consulado Geral da Itália em Curitiba. Curiosamente, o número de sua inscrição já passava dos 5 mil. Depois, segundo diz, não conseguiu mais. Sobre sua colocação na fila do sistema, entretanto, nunca recebeu alguma outra notificação ou comunicação.

Segundo ele, tudo está muito bem explicado no próprio manual do Prenot@mi (31 páginas em PDF), que ele continua estudando para entender melhor o software desenvolvido e comentado pela Farnesina (Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional). O técnico forneceu uma cópia do manual para usuários (existe também o manual para os operadores consulares) que vai aqui, sem tradução, anexado a esta matéria.

Para Eduardo Alves da Silva, é possível aos Consulados, sem muito custo e em relativamente pouco tempo, valerem-se dos recursos de IA – Inteligência Artificial para a análise da documentação necessária à verificação da nacionalidade por direito de sangue com alta margem de segurança. Isso já é feito automaticamente, segundo observa, pela rede bancária e grandes empresas que manipulam documentos. Bastaria, segundo ele, um pouco de boa vontade por parte da administração italiana.

O funcionamento do Prenot@mi tem gerado muito debate nas redes sociais e, em alguns casos como o narrado por Tiago Zamboti no vídeo a seguir, apresenta problemas de “travamento” completo do acesso ao serviço, sem que haja resposta por parte de algum agente do serviço público italiano.

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As limitações impostas no Brasil sobre alguns recursos nativos do Prenot@mi não se sabe de onde partem, se da própria Farnesina, da Embaixada ou dos Consulados isoladamente. Insieme está solicitando esclarecimentos à Embaixada e deverá promover um “4Chiacchiere” sobre o assunto na próxima sexta-feira, início da noite.