Aldo Lamorte e o envelope eleitoral de terceiro, em imagens do jornal "Gente d'Italia. (Fotomontagem Insieme).

Também desta vez a lisura do voto dos italianos no exterior passou a ser duramente criticada depois da denúncia envolvendo uma alta figura do mundo político ítalo-uruguaio que, ao postar vídeo nas redes sociais ensinando como votar por correspondência, teria se valido de um envelope eleitoral pertencente a uma terceira pessoa, completamente desconhecida e alheia aos fatos.

O rumoroso caso foi denunciado já na reta final da votação pelo periódico “Gente d’Italia”, que também ofereceu denúncia às autoridades romanas, além de chamar em causa a Embaixada da Itália em Montevideo e o próprio Ministério das Relações Exteriores, através do Diretor Geral para os Italianos no Mundo, Luigi Vignale. O acusado é Aldo Lamorte, homem ligado ao CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero e ao Comites – Comitato degli Italiani all’Estero local, contra quem o jornal já mantinha um antigo e aceso debate.

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A denúncia é considerada grave em função de representar flagrante violação das normas eleitorais (quebra do sigilo e pessoalidade do voto) e violação de correspondência. O  material exibido no vídeo pertenceria a uma eleitora chamada De Bellis Valeria, nascida em 1972, que, ao que informa o jornal, sequer conhece Lamorte, é eleitora italiana, mas não recebeu o envelope em seu endereço. A indagação também é sobre como esse envelope foi cair na mão de Lamorte e se o fato pode ter algum significado sobre outros envelopes eventualmente violados. O jornalista de “Gente d’Italia’ descreve em pormenores como descobriu o caso.

O assunto teve imediata repercussão em toda o universo italiano da América do Sul, pertencente a uma mesma área eleitoral da Circunscrição Eleitoral do Exterior. As primeiras reações vieram do candidato à Câmara pelo PD – Partido Democrático, Fabio Porta, que já havia denunciado tentativas de novas fraudes logo no início dessa campanha (em sua luta contra as fraudes da eleição de 2018 conseguiu depor o senador Adriano Cario e assumir por alguns meses a cadeira que era sua).

Além de carta endereçada ao jornal, Porta expediu nota à imprensa, enfatizando o que ele chama de “um episódio muito grave porque constitui uma clara violação da lei eleitoral e porque tem como protagonista um parlamentar uruguaio que ocupou importantes funções na comunidade italiana do Uruguai nos últimos anos”.

“Após a ‘fraude anunciada’ pela Usei [Unione Sudamericana Emigrati Italiani] na Argentina e os envelopes eleitorais desviados para a Venezuela, eis a última “cerejinha’ no Uruguai: pouco mais de 24 horas após o fim das operações eleitorais, o representante do Maie [Movimento Associativo Italiani all’Estero] Aldo La Morte divulga um vídeo mostrando o seu voto e fazendo propaganda de seu partido, tendo em mãos não sua cédula pessoal, mas a de uma eleitora que, aparentemente, não recebeu o envelope e desconhece o que aconteceu”.

Porta refere que Lamorte foi “indicado pelo Maie como representante no Conselho Geral dos Italianos no Exterior” e anuncia: “Formalizaremos nossa reclamação e agradecemos mais uma vez ao jornal ‘Gente d’Italia’ pela coragem e profissionalismo demonstrados ao denunciar este enésimo ato de impropriedade e arrogância; também pedimos aos dirigentes do Maie que se afastem deste comportamento ilegal e ao Embaixador no Uruguai que prossiga com a formalização da denúncia, assim como fez em casos semelhantes seus colegas na Argentina e Venezuela”.

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Tanto o fundador e presidente do Maie, ex-senador Ricardo Merlo, quanto o candidato do partido no Brasil, advogado Luis Molossi, informaram a Insieme que Lamorte nada mais tem a ver com o partido. Merlo disse laconicamente que o denunciado deve responder pessoalmente por seus atos e que ele não é, “nem candidato, nem faz parte do Maie”, enquanto Molossi vai além e diz que o caso se equipara ao que praticou no Brasil sua concorrente Renata Bueno, da Usei, enquanto, entretanto, deixa ver que Lamorte foi, em algum tempo, coordenador do Maie.

“Lamorte – escreveu ele – não é candidato, nem coordenador do Maie mais é. Não votou, marcou xis, escreveu nada, a exemplo do que fez RB [Renata Bueno] em eleição anterior e nada foi feito. Todavia, ele responderá ao que lhe for atribuído, se é que alguém se interesse nisso e não fique apenas nas queixas dos não votados. Luciana Laspro e eu fizemos uma eleição limpa, séria, com os meios e propostas que temos. Nenhuma provocação foi sequer respondida. Estamos absolutamente de cabeça erguida e aguardando o número de votos que nos foram conferidos.

Já o ex-deputado e candidato à reeleição pela Lega, Luis Roberto Lorenzato, para quem Maie significa “Milongueiros Argentinos Irritados de Esquerda”, anuncia que a denúncia oferece a possibilidade de processo pedindo a anulação de toda a votação atribuída ao partido de Ricardo Merlo. O caso ainda promete render novos desdobramentos.