Deputado, em italiano, escreve-se Deputato; em espanhol, a diferença é sutil: Diputado. Um número ainda não sabido de cédulas eleitorais falsas, impressas erradamente “Elezioni della Camera dei Diputati”, começaram a surgir nas urnas eleitorais das circunscrições consulares de La Plata e Rosario, na Argentina, logo que foi iniciada a apuração, às 23 horas de Roma (18 horas no Brasil) dos votos dos italianos residentes na América do Sul para a renovação do Parlamento italiano. Invariavelmente, tais cédulas continham voto para Eugênio Sangregorio, fundador e presidente da Usei – Unione Sudamericana Emigrati Italiani.
Não apenas as cédulas são falsas, como também o ‘tagliando’ (folha em duas partes contendo os dados do eleitor para atestar sua regularidade perante o Aire – o cadastro geral de eleitores italianos residentes no exterior) inserido na “antecâmara” dos envelopes eleitorais, é fraudulento. Há ‘tagliando’ que remete a nomes de eleitores que sequer constam do cadastro eleitoral oficial. Um pequeno erro na língua italiana desvenda, pois, uma enorme operação fraudulenta, um crime eleitoral.

“É uma vergonha”, exclamava por volta das 21 horas o ex-senador Ricardo Merlo, presidente do Maie – Movimento Associativo Italiani all’Estero, fazendo coro com o que observava pouco antes o ex-senador Fabio Porta, do PD. Ambos, adversários de longa data e divergentes em muitos pontos da política italiana, estão agora unidos na ação que condena com veemência a enésima fraude na Circunscrição Eleitoral do Exterior, e anunciam que no alvorecer do dia estarão, juntos, perante as autoridades italianas para denunciar formalmente o partido concorrente que, no Brasil, abrigou a candidatura da ex-deputada Renata Bueno.
“Ela é cúmplice, sabia dos precedentes e deve sentir-se também responsável por mais essa vergonha”, castigava Ricardo Merlo, sem saber calcular a extensão de toda a fraude que desmoraliza e ridiculariza o sistema italiano de eleições no exterior por correspondência. Segundo Porta, “esta é a última vez que isso acontece, não pode existir outra vez”.
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Os rumores sobre a operação fraudulenta nas duas circunscrições consulares argentinas já existiam antes do início da operação de contagem das urnas, em Castelnuovo di Porto, nos arredores de Roma. Segundo descrevem fontes de Insieme, outra vez ali “há muita desorganização e procedimento nada uniforme entre os presidentes de mesa”. Uns, por exemplo, estão anulando os votos indicados pelos ficais como fraudulentos; outros contabilizam os votos e apenas observam a irregularidade. A verificação dos ‘tagliando’ é feita manualmente ou, mesmo, sequer é feita.
Logo no início da operação de escrutínio, Porta distribuiu nota à imprensa so o título “Nas urnas argentinas de Rosario e La plata [foram encontradas] milhares de cédulas claramente falsas”. A nota é assinada também por Luciano Vecchi (Responsável do PD pelos Italianos no Mundo).
“Durante a contagem da Divisão América do Sul da Circunscrição Eleitoral do Exterior – prossegue a nota – , “foram identificados milhares de cédulas falsas (com a palavra CAMERA DEI DIPUTADI nas seções relativas às circunscrições consulares de Rosário e La Plata. Todas essas cédulas, obviamente falsas, mostram o “voto” na lista da Usei e a preferência pelo candidato Sangregorio. Solicitamos a nulidade dessas cartões e a imediata restauração da legalidade. Não aceitaremos que o voto dos italianos honestos seja novamente poluído por fraudes e falsificações. Já demos procuração a nossos advogados para agir de todas as maneiras possíveis para remediar essa ofensa inaceitável à nossa democracia”.
Como se recorda, Porta já foi vítima de fraude nas eleições de 2018. Seu mandato de Senador foi ocupado, na maior parte do tempo, por Adriano Cario, também da Usei, que acabou sendo destituído para Porta assumir depois da aprovação do Senado, enquanto ainda prosseguem ações na Justiça italiana e argentina. Há quem esteja agora advogando a cassação do partido Usei antes mesmo da proclamação dos eleitos.