Com um colorido mapa das montanhas trentinas ao fundo, o advogado Elton Diego Stolf deita falação sobre os Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’ – um assunto que ele – conselheiro atual da entidade – conhece bem. Candidato à reeleição, ele pergunta: “Que tipo de pessoa você quer te representando dentro do Comites da grande comunidade italiana dos Estados do Paraná e Santa Catarina?”

E continua perguntando: alguém que diz desenvolver trabalho voluntário mas depois te manda a conta? Alguém que quer usar o Comites para alavancar seus negócios ou obter promoção pessoal e política? Alguém que quer apenas se aproveitar de informações privilegiadas para melhorar seus negócios turísticos? Ou que imagina que a representação (no Comites, no CGIE ou no Parlamento) lhe oferecerá boas oportunidades para viajar?

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Enquanto as perguntas ficam no ar, Stolf apresenta sua ‘lista cívica’, que diz ser a melhor, já que formada por pessoas testadas no mundo do voluntariado e do associativismo italiano, sem vinculações partidárias: “La nostra voce” “La nostra voce”, que tem como símbolo um megafone. Na vídeo entrevista concedida a Insieme, ele exibe também um nariz de palhaço – o mesmo que ele um dia vestiu numa recepção do embaixador da Itália em Curitiba, protestando contra as filas da cidadania. Seu grupo é um dos três inscritos na circunscrição consular de Curitiba em disputa nas eleições que terminarão no dia 3 de dezembro próximo (o voto é por correspondência e poderão votar somente os eleitores que se inscreverem perante o consulado até o próximo dia 3 de novembro).

Já de início, e depois de traçar um breve perfil da comunidade italiana dos dois Estados (Elton é nascido em Londrina-PR e vive em Joinville-SC e é professor de Direito Internacional na Católica de SC em Joinville, tendo sido presidente do Círculo Trentino de Curitiba e consultor da província de Trento para o Brasil), ele critica a forma adotada – a chamada ‘opção inversa’ que obriga, para poder votar, os eleitores já inscritos no Aire (cadastro geral dos eleitores italianos no exterior) a realizarem uma outra inscrição e dentro de prazos exíguos. “Será que para o Parlamento também vão fazer isso?”, pergunta.

Sobre as propostas de trabalho do grupo, ele enumera o que chama de “Seis eixos”. O primeiro, estaria ligado às relações consulares com a comunidade, onde o Comites desempenharia um trabalho de esclarecimento de como funciona o Consulado e vice-versa. “A comunidade é sedenta por informações”, diz ele, precisa ser informada corretamente, mas também o consulado precisa saber que nem todo mundo gosta de ser recebido na portaria por um “funcionário tipo cão raivoso”, exemplifica.

O segundo eixo seria relacionado aos serviços consulares. Num diálogo permanente com o consulado-comunidade, organizar os problemas (por exemplo, filas do passaporte, filas da cidadania, o funcionamento do Prenot@ami) e levá-los à autoridade consular. Em terceiro lugar, Stolf coloca o eixo do empreendedorismo, onde o Comites poderia trabalhar em sinergia com a Câmara de Comércio, reforçando o trabalho desta.

Como quarto eixo, Elton coloca a questão “Turismo de retorno”, tão em voga na Itália nestes tempos de pandemia. O Comites, segundo ele, poderia ajudar a promover, com as associações, regiões italianas e províncias, um bom programa de turismo de retorno, contribuindo para um mais amplo acesso às informações “frequentemente divididas entre os amigos e os amigos dos amigos”.

No quinto eixo, Stolf ressuscita o problema da Agência Consular para Santa Catarina, prometida mas frustrada devido a interesses “de figurinhas que levaram este argumento como se fosse seu” e também por questões até político-partidárias num segundo tempo. “Santa Catarina tem um número maior de italianos que o Paraná e conseguir uma Agência Consular, como a em processo de instalação no Espírito Santo, é uma reivindicação muito antiga”, raciocina. Ele entende que Comites, neste assunto, só pode promover a ideia e incentivá-la.

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Como o sexto eixo, o ‘capo lista’ da chapa ‘La nostra você’ coloca a língua, a cultura e os estudos, fazendo inclusive a defesa do Talian que, principalmente no Oeste de Santa Catarina, está sendo estudado até em Universidade. “Assim como a da língua italiana, a bandeira do Talian – disse Elton durante a vídeo entrevista – precisa tremular dentro do Comites”.

Na análise que fez sobre o desempenho dos Comites e, principalmente, dos representantes ítalo-brasileiros perante o Parlamento, Stolf foi duro e lembrou que “os trentinos estão esperando até hoje um projeto de lei prometido para a reabertura do prazo (ou eliminação dele) para o reconhecimento da cidadania dos descendentes de imigrantes da área trentina e/ou pertencente ao antigo império Austro-Húngaro. Ele também analisou a questão da Grande Naturalização brasileira, que vem sendo usada pela ‘avvocatura dello stato’ italiano para “elevar ainda mais o muro do obstrucionismo”.

Por fim, Stolf faz um apelo aos cidadãos italianos com direito ao voto, que se inscrevam para poder votar e, assim, escolher candidatos que “realmente vai te representar, que irá levar o teu problema para dentro do Comites, e que não vá às reuniões do órgão de representação política da comunidade apenas para convidar o cônsul para algum jantar”.