“Esta eleição parece ter sido feita para afastar e desincentivar a comunidade italiana e também as pessoas que se dispõem a trabalhar por ela; é necessário mesmo muita força de vontade para enfrentar todos os obstáculos que ela oferece”, desabafa a professora de Direito do Trabalho na Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Rosaria Barbato. Natural da cidade italiana de Pompéia e há pouco mais de uma década no Brasil, ela encabeça uma das três chapas que concorrem às eleições do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de Minas Gerais.

Marisa – como também é conhecida – é graduada e doutora em Direito pelas universidades Luiss Guido Carli e Tor Vergata, de Roma e considera o processo eleitoral “muito problemático” e desrespeitoso aos cidadãos, pois eles “têm o direito de votar e não podem ser condicionados a uma manifestação de vontade prévia às próprias eleições”.

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Ela se refere à necessidade de os eleitores, já inscritos no Aire (o cadastro geral dos eleitores italianos residentes no exterior), terem que realizar outra inscrição, cujo prazo vence no próximo dia 3 de novembro para poder votar por correspondência num processo que terminará no dia 3 de dezembro.

Para a professora que encabeça a chapa “Giustizia e Libertà”, esse é um tema sobre o qual os próximos Comites e também o próximo CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estaro’ deverão se debruçar para encontrar alternativas melhores.

Ela inicia a entrevista exclusiva à revista Insieme traçando um perfil da comunidade italiana de Minas Gerais, bastante diverso das comunidades mais a sul do Brasil, e que se integrou mais facilmente no contexto social durante a chamada ‘grande imigração’ mas que depois sofreu outras ondas de imigração dentro de uma realidade totalmente diversa.

Segundo Marisa, os Comites têm competências claras definidas em lei “mas o que é problemático é a leitura do que diz a lei”. Alguns fazem uma leitura muito restritiva, muito limitativa e, por isso, há muita incompreensão sobre o papel deles. “Eu já ouvi falar que o Comites pode ser parecido com um pequeno Parlamento, enquanto outros acham que poderia ser uma espécie de sindicato dos italianos”.

Até agora, segundo ela, os Comites foram visto mais como uma entidade que pode promover a língua e as tradições italianas, mas, segundo ela, esses órgãos de representação têm outros papéis que são muito mais importantes e que nunca realmente foram exercidos”. No caso do Comites de Belo Horizonte, Marisa acha que até aqui teve uma atuação “bastante restrita”.

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Marisa falou sobre obstrucionismo consular, sobre a tese da Grande Naturalização (se aplicada atingiria a quase totalidade dos descendentes da chamada grande imigração em Minas Gerais), sobre as filas da cidadania, e também sobre a desinformação que tem a Itália sobre suas comunidades espalhadas pelo mundo, como a ítalo-brasileira, que é a maior de todas.

A professora espera que o novo Comites, a ser formado por integrantes das três tendências em disputa (Italianità in movimento’ e a outra ‘Cittadinanza attiva’), seja um “Comites mais plural, mais rico de ideias, mais animado”. A composição será – como ela diz – uma espécie de Cérbero (na mitologia, um monstro com três cabeças): se todas as cabeças se entenderem, sairão grandes coisas; caso contrário, será um desastre. Ela explica que sua chapa não tem compromissos partidários: “nos reunimos em torno de ideias e projetos”, diz.

Marisa defende a proposta de um trabalho mais integrado entre os sete Comites brasileiros. Cada um tem sua realidade local, mas “existem pautas que devem ser unitárias” como, por exemplo, as questões ligadas à assistência social, à formação e à informação.

Ao final, a ‘capolista’ de ‘Giustizia e Libertà’ de Minas Gerais (Facebook e Instagram) critica a necessidade de os eleitores já inscritos no Aire (o cadastro geral dos eleitores italianos que vivem no exterior) terem que se inscreverem de novo para votar nestas eleições. São exigências burocráticas “inaceitáveis”, segundo ela, que precisam ser revistas. Um trabalho para os próximos Comites.