Para Renato Sartori, atual presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de São Paulo e candidato à reeleição, o prioritário agora é participar. Mesmo com as dificuldades decorrentes da chamada “inversão de opção”, “precisamos mostrar à Itália que queremos participar da vida política”, disse ele, argumentando que debates sobre filas da cidadania e, inclusive, o tema trazido à baila pela posição da ‘Avvocatura delo Stato’ italiano sobre a GN – Grande Naturalização brasileira, não devem “nos tirar do foco que são as eleições”.

Sartori encabeça uma das quatro chapas que concorrem dentro da circunscrição consular de São Paulo (que abrange também os Estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre), denominada “Democratici in Brasile – Giustizia e Liberà nel Mondo”. É, como ele diz, uma proposta de “trabalho em continuação” pois, “sem falsa modéstia, nosso trabalho foi muito positivo e seria uma pena a gente não continuar”.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Segundo ele, em toda a circunscrição consular estão inscritos cerca de 211 mil pessoas, de um total estimado em aproximadamente 15 milhões de ítalo-descendentes. O voto não é obrigatório, mas todos os cidadãos italianos formalmente reconhecidos, mesmo que inscritos no Aire (o cadastro dos eleitores italianos que vivem no exterior) precisam se inscrever especificamente para votar nestas eleições, que serão concluídas no dia 3 de dezembro próximo. O prazo final para essa inscrição, entretanto, termina na próxima quarta-feira (03/10).

Na vídeo-entrevista que concedeu à Revista Insieme, Sartori disse ter “orgulho de estar à frente” de um dos maiores Comites do mundo e de ter tornado a entidade um pouco mais conhecida no seio da comunidade. Ele rejeitou críticas que alguns candidatos concorrentes vem fazendo de que o Comites é ausente para as comunidades do interior do Estado, argumentando que a “Comissão Interior” é uma das mais ativas atualmente e que a chapa foi reforçada com pessoas de todas as áreas e regiões do Estado.

Ao analisar o trabalho das instituições representativas dos italianos no exterior, nos três níveis (Comites, CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, e parlamentares eleitos na América do Sul), Renato Sartori disse ter uma “visão positiva” dos Comites e da delegação brasileira perante o CGIE, o mesmo não ocorrendo com os atuais parlamentares. “Nas últimas eleições [parlamentares] sofremos uma queda muito grande em nossa representação”, disse ele, afirmando também que o senador Ricardo Merlo “poderia ter aproveitado melhor a oportunidade” que teve quando no cargo de subsecretário da Farnesina para os italianos no mundo. “Merlo, no governo, poderia ter ajudado um pouquinho mais; deixou a desejar”, disse Sartori.

Embora tida como “uma chapa do PD” (‘Partito Democratico’) pelas listas concorrentes, Sartori assegura que “em nenhum momento foi solicitada essa filiação”. É evidente – disse ele – que, como “todas as chapas têm forças políticas por trás”, também “temos essa ligação”, mas o critério de escolha dos candidatos atendeu a outros requisitos, como a representação dos mais diferentes setores da comunidade, jovens, localização geográfica e, principalmente, “o engajamento na comunidade”. “Todos nossos candidatos, de alguma forma, já trabalharam ou trabalham para a comunidade”.

veja também

Eleição Comites 2021: Saiba quais são os candidatos em cada uma das sete circunscrições consulares italianas do Brasil
Comites de SP vai testar, no Brasil, voto eletrônico. Lanzi anuncia chapas em seis das sete circunscrições sob o apelo “Giustizia e libertà”
Comites: burocracia derruba chapa concorrente do Espírito Santo e ameaça outras listas e candidatos
Comites-RS: “O que podemos esperar?”, pergunta Antonini diante da impugnação de chapa eleitoral. A defesa do cidadão em primeiro lugar. Presidente Zorzi alega estrito cumprimento da norma
“Cittadinanza Attiva”: Um Comites articulador dos interesses comunitários e não apenas intermediário do Estado italiano
Por um Comites propositivo. Fasoli quer serviços consulares melhores, mas também diz que trabalhará por uma comunidade mais consciente de sua italianidade e deveres
Comites-RS: Parisotto quer cadastro único dos italianos no exterior. Sobre inscrição eleitoral: “Vamos ter mais candidatos que votos”
Comites: Endereço alternativo na ficha de inscrição eleitoral pode dar origem a fraudes. Operação estaria em curso. “Haverá verificação”, diz Petruzziello
Comites: O ‘bom combate’, na metralhadora giratória de Taddone, será travado com ‘respeito e calma’. Mas sem imobilismo. E o sesquicentenário da imigração italiana?
Comites: Chapa da Lega quer a inclusão das comunidades italianas do interior. “Todos se lamentam das filas” apesar da taxa de 300 euros que ‘deve ser debitada ao PD’
”Que tipo de pessoa você quer te representando no Comites?”, pergunta Stolf, da chapa ‘La nostra voce”. O trabalho é de voluntariado, não de negócios nem de promoção pessoal
Candidatas ao Comites do Nordeste se insurgem contra a discriminação da mulher na transmissão da cidadania italiana ‘iure sanguinis’. Por que obrigar ir à justiça?
Comites são pontes entre o cidadão e as instituições, define Luciana Laspro. “Eles representam também os enfileirados”
Barbato: Uma corrida contra obstáculos. Eleição dos Comites ‘parece feita para desestimular e desincentivar a comunidade’
• Tirar ou negar um direito de sangue é uma ‘proposta indecente’, diz o candidato Apicella. ‘É a renegação de nossa própria história’
Roldi cobra ação dos parlamentares na questão da Grande Naturalização. “Problema político tem que ser resolvido através da ação política”

Sartori falou sobre as “filas do passaporte”, sobre as “filas da cidadania” e, também, sobre a tese ressuscitada pela ‘Avvocatura dello Stato’ italiano da GN como obstativa ao reconhecimento da cidadania ‘iure sanguinis’ à grande maioria dos imigrantes italianos antes de 1889. “Precisamos ficar atentos a isso, mas não vamos nos desviar do foco que são as eleições”, disse ele.

Entende Sartori que o Comites também deve representar a grande maioria dos ítalo-brasileiros ainda não reconhecidos (embora “se for entrar na área jurídica, aí cabe uma grande discussão”), mas não concorda em transformar a entidade num “palanque para a questão da cidadania”. Este, para ele, é “um problema político do governo”. Os Comites, segundo Sartori, “têm uma abrangência muito maior”. E sua importância cresce mais agora com a redução do número de parlamentares também na Circunscrição Eleitoral do Exterior.

Para Sartori, os percalços apontados no processo dessas eleições poderão ser solucionados com aquela há muito almejada modernização da legislação que regula os Comites.

Em toda a circunscrição de São Paulo, durante estas eleições, será realizado um teste com a modalidade de voto eletrônico. Entretanto, somente poderão participar do teste os cidadãos que tenham se inscrito para votar (Fast It) e sejam também inscritos no SPID (‘Sistema Pubblico di Identità Digitale’) . Veja a vídeo-entrevista para mais detalhes.