Vigilância sobre os serviços consulares, língua e cultura italiana, e proteção social com atenção especial às questões de previdência e saúde. Estas são as três prioridades com que Augusto de Ornellas Abreu apresenta a chapa que encabeça para as eleições do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Distrito Federal, sob o símbolo de ‘Italianità in Movimento’. “Acima de tudo, vigilância”, repetiu ele, assinalando que os serviços consulares da sua circunscrição estão entre os “os piores do Brasil”. “O Comites não é um comitê de eventos”,

“Aqui em Brasília não se faz passaporte há meses”, afirmou Ornellas durante a entrevista que concedeu na tarde de ontem à Revista Insieme, a penúltima da série que pretende ouvir todas as 16 chapas concorrentes. Na véspera do encerramento do prazo para a inscrição de eleitores (termina hoje, 03/11), ele revelava que inúmeros pedidos estão sendo rejeitados ou devolvidos pelo serviço consular sob a alegação de que o documento de identidade anexado à ficha de inscrição tinha “mais de 10 anos de idade”, ou por pequenos detalhes, “besteiras documentais que causam grandes frustração na comunidade” , como o caso de um eleitor de Minas Gerais, que escreveu o nome do lugar (Cataguases) sem indicar o Estado em que se situa a conhecida cidade.

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Durante a entrevista, Ornellas, que é funcionário público (Analista) e “genealogista por paixão”, contou alguns detalhes que ocorreram na fase de registro da lista concorrente (“Italiani in Brasile – Giustizia e Libertà nel Mondo”), em que a Comissão eleitoral foi extremamente compreensiva com erros na entrega da documentação, conferindo prazos bem elásticos para a correção das falhas apontadas. “Dois pesos e duas medidas”, disse ele, ao comparar com os fatos ocorridos no Espírito Santo e em no Rio Grande do Sul, com a impugnação de duas chapas inteiras.

Ornellas explica na entrevista também que a formação de duas chapas na circunscrição consular do DF atendeu a um critério de “afastamento partidário”. “Em nosso grupo, o objetivo principal é trabalhar para a comunidade, independentemente de preferências partidárias”, disse. Mas assegura a intenção de trabalho conjunto na formação do novo Conselho, que deverá ser composto por elementos das duas tendências.

O episódio e todo o desenrolar desse processo eleitoral que será concluído no dia 3 de dezembro próximo faz o candidato advogar uma urgente tarefa para os novos Comites: lutar pela atualização da legislação que os regula. “As leis dos Comites são mal feitas e ultrapassadas”, diz ele, citando, por exemplo, a necessidade de apostilamento da documentação dos candidatos no próprio território em que vivem.

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O candidato denuncia que a parte que retorna da “taxa da cidadania” (30% dos 300 euros cobrados sobre cada requerimento de adulto) “não está sendo de fato revertida para a melhoria dos serviços”, ou para acelerar o atendimento dos “enfileirados” (cidadãos italianos ainda não formalmente reconhecidos) que, perante os Comites, devem ser considerados sem discriminação, tanto que os conselhos, após eleitos, são acrescidos de cooptados escolhidos dentre ítalo-descendentes ainda sem a cidadania.

Ao falar das dificuldades interpostas pelos consulados sobre os processos de reconhecimento da cidadania ‘jure sanguinis’, Ornellas revela um fato inusitado. Segundo ele, o então embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, teria confidenciado a um amigo que ele recebia claras orientações de Roma para que praticasse o obstrucionismo. “Então, fazer obstrucionismo é uma situação concertada” entre os altos escalões, diz o candidato, assim como está ocorrendo hoje com a ressuscitada tese da GN – Grande Naturalização pela ‘Avvocatura dello Stato’ italiano.

Para ele, a questão da GN “é absolutamente séria” e as coisas estão acontecendo ante o silêncio dos três níveis da representação dos italianos: os parlamentares, o CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, e os próprios Comites, onde “a única exceção é Daniel Taddone”, atual presidente do Comites do Recife. “Aqui no Comites de Brasília nunca se ouviu alguém falar sobre esse assunto”, que interessa, entretanto, a pelo menos dois terços de toda a comunidade ítalo-brasileira.