Comites: Primeiros números apontam para o fracasso retumbante na participação. “A luta agora é pelo voto de quem se inscreveu”, diz Sartori

A se confirmarem os primeiros números, estas eleições dos Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’ ficarão na história como um tremendo fracasso em termos de participação. O maior número até o final da tarde pertencia à circunscrição consular de Curitiba que, com mais de 100 mil inscritos (o número de eleitores válidos seria em torno de 70 mil), estaria na casa dos 4.500 habilitados ao voto por correspondência, ou seja, coisa de 8 ou 9%.

Na circunscrição de São Paulo, com 211.000 inscritos (pelo menos 178.000 mil eleitores), os números ainda provisórios estavam abaixo dos de Curitiba: 4.300. Na circunscrição do Rio de Janeiro, que engloba também o Estado do Espírito Santo, os eleitores que solicitaram o envelope eleitoral passava pouco de 2.000, enquanto em Belo Horizonte, superavam pouca coisa de 1.200. No Distrito Federal, as duas chapas inscritas disputarão o voto de cerca de 500 eleitores inscritos. No Recife, o número de eleitores não chegava a 600. Não se tinha informação de Porto Alegre.

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Apesar dos esforços realizados pela Farnesina, com produção de vídeos institucionais e do corpo-a-corpo realizado por quase 300 candidatos (seriam mais se não tivessem sido eliminados por problemas geralmente de burocracia), o índice de participação poderá ficar abaixo da marca histórica alcançada em 2015, quando cerca de 4,5% dos eleitores italianos no exterior, calculados em torno de seis milhões, votaram.

Também naquela data houve a chamada “inversão de opção”, um mecanismo que obriga os cidadãos italianos já inscritos no Aire (o cadastro geral dos eleitores italianos que vivem no exterior) a se inscreverem novamente para receber o material eleitoral por correio. Além da inscrição, feita através do preenchimento de um formulário a ser enviado (pessoalmente, através de e-mail ou pelo site do sistema consular) juntamente com a fotocópia de um documento, os consulados precisam checar se o cidadão está, efetivamente, com seus dados transcritos na “comune” de origem, na Itália.

Assim como na composição das chapas, muitos eleitores foram “desclassificados” devido à anexação de documentos (geralmente a identidade brasileira) com mais de dez anos de emissão, conforme casos já narrados por candidatos na série de entrevistas que Insieme promoveu com todas as chapas inscritas (exceto a do ‘Movimento Passione Italia’, da ex-deputada Renata Bueno, que não quis participar).

Dentre os candidatos rapidamente contatados por Insieme no começo da noite, há quem tenha sugerido que o baixo índice de inscrição deve ser interpretado como um “protesto mudo” dos cidadãos, descontentes com a necessidade de confirmar, a cada eleição, se querem ou não votar. O voto não é obrigatório, mas “por qual motivo não fazem essa pergunta já na inscrição junto ao Aire, uma única vez?”, perguntou alguém.

Renato Sartori, presidente do Comites de São Paulo – um dos quatro maiores do mundo – disse que lamenta a baixa participação e espera “que seja repensada a forma de como é feita esta opção inversa, pois é claro a queda da participação com as mudanças propostas”. “Agora, a luta é para que estes poucos que se inscreveram efetivamente votem de forma correta e a tempo para que não seja invalidado o voto”, acrescentou Sartori.

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Para Walter Petruzziello, conselheiro e ex-presidente do Comites de Curitiba, a verdade é que os Comites são muito pouco conhecidos, além disso, por motivos econômicos “inventaram essa inversão de opção com prazos exíguos”. E pergunta: “Por qual motivo a administração pública italiana fornece o endereço dos eleitores, mas não informa nem telefone, nem e-mail. Como os candidatos vão encontrar os eleitores?”

“Há pouco interesse” – disse Walter -, aduzindo que “boa parte dos que tiveram a cidadania reconhecida acaba sequer atualizando seus dados no consulado”. Mas a culpa, para ele, também é do consulado que não usa os meios tecnológicos de que pode dispor como todo mundo faz: “Enquanto não houver uma comunicação efetiva do consulado com o cidadão. esse triste espetáculo vai continuar”. Petruzziello lamenta que uma nova baixa participação dos eleitores acabará, fatalmente, a reforçar a tese dos que querem a extinção dos Comites. “A baixa participação – completa ele – é um prejuízo para a própria comunidade”.

“É muito baixa a participação” – disse o candidato Thiago Roldi, do Espírito Santo. “As pessoas querem mudança, mas infelizmente na hora de participar, poucos se animam a exercer sua cidadania”.